segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A influência de Star Wars


Alguns vídeos que mostram que mesmo tendo sido lançada 
long time ago...
Star Wars ainda influencia e diverte gerações.

1. Moosebutter e a canção "John Williams is the man"


2. Star Wars Weekend - Disney


3. O imperador em episódio de "Robot Chicken"


4. Comercial da Volkswagen


5. Uma Família da Pesada - Blue Harvest


6. Cena do filme "Space Balls"


Autoria: só se for autoria da compilação = O chinelo da minhoca
Vídeos incorporados do Youtube

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O amor no antigo Egito



            O faraó Akhenaton finalmente voltara de sua longa expedição de quatro anos pela Ásia. O povo foi devidamente orientado a recebê-lo nos portões do palácio. Os gritos forçados de “vida longa ao faraó” quase eram ofuscados pelos gritos de dor de vários súditos que se recusavam a saldá-lo e eram açoitados pelos militares. E o faraó sorria e acenava, crente que estava abafando.
            - Eu sou o cara – pensou.
            A sua amada esposa o aguardava na entrada do palácio. Kiya era jovem, mas já apresentava todas as características de uma legítima esposa de faraós: beleza estonteante e exótica, fascínio por ouro e pedras preciosas, vestimentas fashion, e uma vontade tremenda de dar uma porrada no marido vagabundo e mulherengo. Nessa altura dos acontecimentos, já havia quebrado a golpes de espada pelo menos trinta bustos do marido que estavam espalhados pelos templos de Tebas (naquela época já existia a tensão pré-menstrual). Sabia que ele não tinha viajado por motivos políticos, e sim para aprontar poucas e boas. Ela provavelmente não estaria tão nervosa se tivesse aproveitado a ausência do maridão para também se jogar na vida e curtir umas baladinhas com os escravos. E ela bem que queria fazer isso. Porém, por motivos que ela desconhecia, nenhum homem ousou tocá-la durante os quatro longos anos que se passaram. Nem sob ameaças de morte e desmembramentos. Sentia-se feia e mal-amada, e estava pronta para descontar sua frustração no faraó.
Akhenaton finalmente alcançou a entrada do palácio. Abraçou e beijou sua querida esposa, que quase o fulminava com seus olhos repletos de ódio. De mãos dadas, agradeceram as boas vindas dos súditos e ordenaram que os militares dispersassem a multidão para que eles pudessem descansar. Enquanto o chicote lambia o couro da turminha, os dois se retiraram para seus aposentos.
- Querida. Estou muito contente em vê-la. Sentiu saudades? – perguntou o faraó delicadamente.
- Não me chame de querida! – gritou a jovem rainha. – Pode ir explicando que negócio foi esse de sair de fininho no escuro da noite e demorar quatro anos pra voltar! 
- Lembra daquele meu amigo, o Juninho? Pois é. Ele me chamou pra dar uma passadinha na casa dele pra mostrar a sua nova tumba. Aí bebemos um pouco além da conta e acabamos reunindo a turma pra um jogo de senat. E conversa vai, conversa vem...
- O Juninho que mora na China? – gritou a mulher, enfurecida e já pegando uma adaga que estava escondida em seu vestido.
- Calma. Eu sei que eu demorei um pouco pra voltar, mas tudo pode ser explicado – disse o faraó, sentindo-se acuado.
- Explica então. Quero só ouvir a desculpa esfarrapada que vai dar dessa vez. O pneu da biga furou? Parou pra assistir ao Rally Dakar? Um maluco abriu o mar Vermelho? – bradou a esposa. 
- Resolvemos ir pescar no mar Morto – disse o faraó.
- Mas não existem peixes vivos no mar Morto – retrucou a mulher.
- E só agora você me diz isso? – gritou Akhenaton. – Foram três longos anos de espera e nenhuma beliscada!
E os dois governantes ficaram discutindo por algumas horas. Depois, deitaram-se juntos, pois a rainha havia enfrentado quatro anos de inverno, sem água e sem trigo, tendo sofrido as agruras da fome e da falta de grãos (na verdade, estamos falando é de sexo, e não de comida, mas o Egito também tem as suas metáforas).
- Oh, querido. Você não imagina a solidão que eu senti nesses últimos anos – choramingou a rainha.
- Eu posso imaginar – disse o faraó, lembrando-se da noite em que espalhou o boato de que sobre a rainha pairava uma maldição terrível lançada pelo deus Aton, que acometeria qualquer homem que ousasse profanar as virtudes daquela linda mulher. “As pernas perderão as forças, a coluna se partirá em dores horrendas e os órgãos genitais serão atacados por uma coceira fulminante, seguida de corrimento uretral esverdeado”.
O faraó era o único representante do deus Aton na terra, e a sua palavra era a lei. Todos o temiam e obedeciam de imediato. Todos, menos o seu empentelhado filho, Tutankamon, que insistia em desenhar nas paredes do palácio. Era um garoto impertinente e arruaceiro. E além de tudo era chantagista. Certa vez encontrou alguns hieróglifos pornográficos no banheiro do pai e ameaçou contar tudo para a mãe se não fosse levado para passear no rio Eufrates. E a mãe sofria nas mãos daquele pequeno malandro, que a importunava horas a fio, pedindo que ela lhe contasse histórias de ninar.
- Conta a história da esfinge – pedia o garoto, insistentemente, todas as noites. – E depois conta uma história de terror, com múmias e crocodilos.
- Quantas vezes vou ter que contar as mesmas histórias? – pensava a mãe, desolada e morrendo de sono.
- Cadê os meus gatos? Quero dormir com eles.
- O deus Aton te proibiu de dormir com os gatos.
- Por que eles são sagrados?
- Não. Porque você tem rinite.
- Canta uma música pra mim? – choramingava o moleque, fazendo beicinho.
- Tudo bem. “Dorme neném, que Anubis vem pegar...”
A chatice do garoto era tão grande que os pais não viam a hora dele crescer, se casar e sair do palácio. E então se lembraram que no Egito os casamentos arranjados eram comuns e nenhuma lei impedia que crianças se casassem. Correram então para encontrar uma esposa para o pequeno Tuti, como era chamado o menino. Após a realização de um rápido reality show, finalmente encontraram uma noiva. Seu nome era Ankhsenpaaton. Era uma adolescente de 14 anos, olhos verdes, que gostava de esportes, moda e sonhava em ser atriz. Infelizmente, Tuti não gostou muito da ideia.
- Ela é feia! – gritava.
E a pobre garota, escondida atrás das pilastras do salão, ouvia tudo com lágrimas nos olhos. Mas ela havia sido treinada para amar e respeitar o seu marido, por mais que ele a fizesse sofrer.
- Ela é baixinha! – continuava o pequeno príncipe.
 Ankhsenpaaton teve aulas de etiqueta e de obediência. Sabia todos os segredos para agradar o futuro faraó. Por mais que se sentisse ofendida, sabia que tudo se resolveria entre eles. Era tudo uma questão de tempo.
- Ela é velha! – berrava a criança.
E a futura rainha, por mais nervosa que estivesse, ainda se lembrava da regra número um: “o faraó tem sempre razão”.
- Ela é gorda! – insistia Tuti.
E a jovem noiva decidiu que aquela tinha sido o fim da picada, e jurava aos pés de Aton que só descansaria quando o maldito moleque estivesse morto, enfaixado e enterrado no deserto escaldante.

Autoria: O chinelo da minhoca
Desenho: internet

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BURÓCRIA



            Burócria era o país mais burocrático do mundo. E a burocracia era tão grande que tornava tudo muito lento e difícil.
            Numa bela manhã, um criminoso que estava detido na penitenciária decidiu escapar. Ele preencheu um requerimento de fuga em três vias, pegou o carimbo de autorização, entrou na fila do despacho, despachou o requerimento e começou a cavar um túnel.
            Percebendo que o bandido estava tentando fugir, um dos guardas preencheu uma ficha de autorização em duas vias para poder apertar o botão do alarme. A ficha de autorização foi levada para a sala do subsecretário do diretor do presídio, que tirou uma fotocópia da ficha, carimbou com o carimbo “urgente” e a enviou para o secretário do diretor. O secretário recebeu a cópia da ficha, tirou outra cópia, carimbou com o carimbo “prioridade máxima” e a deixou sobre a mesa, pois o seu relógio deu o sinal de meio-dia. Ele saiu para almoçar.
            O prisioneiro já estava no meio do caminho para a liberdade. Outros presos queriam ajudar na escavação, mas a moça que trabalhava no guichê de autorização de fugas estava muito ocupada para atendê-los. Ela estava desenhando flores nas unhas com esmalte colorido.
            O secretário voltou do almoço e levou a cópia da ficha de autorização do alarme para a sala do diretor e a deixou sobre a mesa, pois o diretor estava no banheiro, enviando um fax para Boston.
          O criminoso terminou o seu túnel de fuga, preencheu um comprovante de conclusão de obras subterrâneas e saiu correndo em direção à cidade.
            O diretor do presídio saiu do banheiro, pegou a cópia da ficha, carimbou com o carimbo “deferido”, entregou para o secretário e voltou para o banheiro, pois ainda precisava despachar alguns toletes para o rio.
            O secretário enviou a ficha para o subsecretário, que despachou para o setor do alarme. O guarda recebeu a autorização, entregou um recibo para o subsecretário e apertou o botão do alarme.
            Os outros guardas do presídio, que estavam tomando um cafezinho, ouviram o alarme e se encaminharam lentamente (foram andando, pois no corredor havia um aviso de "proibido correr no corredor") para a sala de recados, onde estava afixado o memorando que explicava com detalhes a tentativa de fuga do prisioneiro. Então os guardas se dirigiram para o depósito de armas, protocolaram um aviso de retirada de material e pegaram suas espingardas. Vasculharam todos os arredores, mas o homem já estava longe quando o alarme tocou. O diretor do presídio foi obrigado a enviar um ofício para o chefe de polícia local, solicitando ajuda para a captura do fugitivo.
            O prisioneiro foragido teve uma ótima ideia. Entrou numa papelaria e roubou uma folha de cartolina branca e uma caneta. Escreveu em letras garrafais “CIRCULAR DE LEITURA OBRIGATÓRIA” e afixou a folha ao lado de um sinal de trânsito. Alguns minutos depois, um motorista parou seu carro no sinal e desceu para ler o que estava escrito na folha. O fugitivo aproveitou para entrar no carro e fugir.
            O chefe de polícia recebeu o ofício, carimbou com o carimbo “de acordo” e entregou a mensagem para o seu escrivão, que a enviou para o escrivão do delegado, que a entregou em mãos para o delegado. O delegado percebeu que era preciso agir com rapidez. Elaborou um memorando pedindo prioridade nas investigações e se reuniu com toda a força policial durante o cafezinho da tarde, exigindo que todos se empenhassem ao máximo para capturar o fugitivo.
            O fugitivo estava quase chegando à fronteira do país. Sabia que precisaria apresentar documentos, passaporte, carimbar o visto, fazer um requerimento para deixar o país, aguardar deferimento, confeccionar um novo cartão de vacinação, tomar uma vacina contra febre amarela, preencher uma guia de viagem, carimbar a guia, entre outras obrigações. Quando se lembrou que não estava carregando nenhum documento, resolveu desburocratizar geral e atravessou a fronteira com carro e tudo, quebrando as barreiras de proteção.
            A polícia recebeu um ofício que informava sobre a fuga internacional do prisioneiro. O ofício foi despachado para o escrivão do chefe de polícia. Após o intervalo da tarde, o escrivão enviou o ofício para o chefe de polícia, que agiu de imediato. Protocolou um pedido de ajuda internacional e prometeu entrar em contato com as forças policiais do país vizinho assim que terminasse o feriado prolongado. 

Autoria = O chinelo da minhoca
Ilustração = Tony (cartunista) - desenho retirado da internet

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Ele e ela



O homem entrou na floricultura com a intenção de comprar algumas rosas vermelhas para sua noiva.
Ele era romântico.
Do outro lado da cidade, a noiva do homem trocava olhares maliciosos com um amigo do trabalho.
Ela era bonita e provocante.
Utilizando um binóculo para permitir uma melhor leitura labial, alguém observava a noiva do homem.
Ele era um espião contratado pelo homem.
O homem recebe uma mensagem no seu celular, dizendo aquilo que nenhum homem gostaria de escutar.
Ele era corno.
A noiva do homem estava agora em um motel, e trocava beijos e carícias com o amigo do trabalho.
Ela era uma traidora.
O homem devolveu as rosas na floricultura e saiu cabisbaixo, chorando como uma criança que perdeu o seu doce.
Ele era sensível.
O espião subiu em uma grande árvore para tentar ver o que estava acontecendo naquele quarto de motel.
Ele era um pervertido.
O homem parou de chorar e ligou para o espião, perguntando onde estaria a sua noiva neste exato momento.
Ele era um corno curioso.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para o amigo do trabalho e balançava a cabeça, irritada por não se sentir satisfeita.
Ele era um ejaculador muito precoce.
O homem revirava todos os armários de sua casa, procurando o dinheiro que estava escondido para emergências.
Ele era um homem precavido.
A noiva do homem decidiu ligar para outros cinco amigos do trabalho e convidou a todos para uma festinha naquele quarto de motel.
Ela era insaciável.
O espião enviou uma nova mensagem para o homem, relatando todos os acontecimentos e descrevendo todos os envolvidos.
Ele era muito eficiente.
O homem levou o dinheiro até um beco escuro, onde outro homem o aguardava com um grande embrulho.
Ele era um traficante de armas.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para os amigos do trabalho e balançava a cabeça, irritada por não se sentir satisfeita.
Eles eram ejaculadores ainda mais precoces que o primeiro amigo.
O homem comprou uma grande arma e tratou de se encaminhar para o motel onde estaria a sua noiva.
Ele era agora um homem armado e perigoso.
O espião tentava aconselhar o homem a não fazer nenhuma loucura, como por exemplo, matar a noiva e todos que estivessem com ela.
Ele era um homem que agia dentro da lei.
A noiva ligou para todos os outros amigos do trabalho e os convidou para uma imensa orgia no quarto do motel.
Ela era muito promíscua.
O homem chutou a porta do quarto com a força de um aríete, assustando os dois homens que estavam se abraçando lá dentro.
Era o quarto errado.
O espião ligou para a polícia quando percebeu que o homem estava prestes a cometer um crime.
Ele era um espião honesto, e não seria cúmplice daquilo.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para os homens e balançava a cabeça, irritada por trabalhar num grupo de terapia para ejaculadores precoces.
Eles realmente precisavam de ajuda.
O homem chutou a porta do quarto com a força de um touro, assustando um jogador de futebol e três travestis que estavam se abraçando.
Era o quarto errado mais uma vez.
A mulher sugeriu que todos os amigos tentassem novamente, agora que já estavam descansados.
Ela era uma ninfomaníaca.
Os policiais bem que tentavam chegar ao motel, mas não conseguiam sair daquele gigantesco congestionamento.
Era hora do rush.
O homem bateu três vezes na porta de outro quarto do motel, com extrema delicadeza e respeito.
Era melhor ter certeza antes de sair chutando outra porta errada.  
A noiva do homem gritou que agora não podia atender a porta, pois estava muito ocupada.
Era o quarto certo.
O homem chutou a porta com a força de um leão, assustando a noiva e os amigos da noiva, que estavam se abraçando.
Era chegada a hora de matar e usar a desculpa da insanidade temporária.
A noiva do homem começou a chamá-lo de benzinho e a explicar que aquilo tudo era um grande mal entendido.
Ela era uma dissimulada.
O homem gritou palavrões e sapecou mais de trinta tiros com sua metralhadora. 
Ele havia se tornado um homem vingativo e impulsivo.
A metralhadora disparava sem parar.
Ela era semi-automática.
As balas acabaram e o homem percebeu que não tinha acertado absolutamente ninguém.
Ele era um homem de péssima pontaria.
O latido dos cachorros e o barulho das sirenes anunciaram a chegada da polícia ao motel.
            Era hora de fugir.
            O homem saltou o muro dos fundos do motel, entrou no seu carro e saiu levantando poeira.
            Ele agora era um foragido.
           A noiva do homem convidou todos os policiais para participarem da festinha que ela estava dando no quarto do motel.
            Ela realmente não tinha conserto.

Autoria: O chinelo da minhoca
Imagem: internet

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

LEMBRANDO DAS FOTOS DO INÍCIO DA DÉCADA DE 1980



ESTILO DAS FOTOS = Se você revirar no fundo do armário, provavelmente vai achar fotos de 1982 (no fundo de alguma caixa de sapatos, talvez daquelas fotos quadradinhas, de uma época em que algum executivo achou que fotos quadradinhas com cantos arrendondados seriam um sucesso), sendo que todas tem as mesmas cores, meio amareladas de péssima qualidade, como se o tempo estivesse nublado o tempo todo, o mesmo formato, os mesmos figurantes com roupas estranhas, cabelos cafonas e óculos escuros marrom. Legal como os nossos pais tinham uma péssima noção de enquadramento ou então gostavam de tirar fotos enquanto bêbados (exemplo: foto do cotovelo da sua mãe na praia). O pior de tudo é que provavelmente algumas fotos são em preto e branco (é isso mesmo = você tá ficando velho, xará!), em plenos anos 80, sabe-se lá o porquê.
ESTILO DOS TIOS =
- estilo 1 = sem camisa, meio careca, com correntinha de santo no pescoço;
- estilo 2 = barbudo também sem camisa ou com camisa de botão aberta pra mostrar o peito cabeludo;
- Restante dos tios que aparecem no fundo das fotos = pelo menos dois dos tios usa um óculos escuro marrom e quadradão e uns outros três estão fazendo chifrinho na cabeça dos sobrinhos (naquela época o bullying de tio para sobrinho era muito comum e metade das brincadeiras sem graça que já fizemos com outras pessoas aprendemos na infância com nossos tios).
ESTILO DA TIAS =
- as mais novas = cabelo armado estilo Jane Fonda ou aquela mulher do filme “Mulher nota mil”.
- as mais velhas = idem.
- Se ao ar livre ou reuniões informais = vestido largo e com cores primaveris;
- Se formal, pelo menos 4 estão com uma camisa que exibe um belo par de ombreiras (estilo futebol americano).
ESTILO DAS CRIANÇAS = em primeiro lugar deve-se salientar o número exagerado de crianças nas fotos, porque os nossos pais tinham muitos irmãos e todos resolveram ter filhos na mesma época – é uma primaiada que não acaba mais (em algumas fotos tem tanta criança que as maiores estão com as menores no colo). Provavelmente vai ter um tanto de criança em volta de uma mesa com bolo de aniversário, uma garrafa de vidro de coca-cola e talvez até uma lata de sorvete da Kibom (lata mesmo, de metal!!! E era uma merda de abrir aquela lata!!!).
- Pelo menos uma criança com agasalho da adidas ou camisa xadreza estilo festa junina.
- Pelo menos duas com short muito curto (adidas provavelmente = lembra que nessa época quase todo índio que aparecia na Globo ou na revista Manchete usava shortinho da Adidas? E esse shortinho era bem no estilo da seleção brasileira de 1982 e com as cores mais comuns da época – vermelho ou azul escuro e, de vez em quando, verde pra combinar com a camisa da seleção).
- Pelo menos uma criança com camiseta regata com estampa de desenho animado (Thundercats).
 - As meninas ou estão com cabelo curtinho, parecendo menino, ou de Maria Chiquinha.
ESTILO DOS CARROS – quase tudo fusca ou chevete ou Passat ou Belina ou opala ou gol ou bicicleta sem marcha. Pick-up? D10! Daquelas que soltavam uma fumaça danada de diesel que intoxicava qualquer pessoa num raio de 2 quilômetros.
ESTILO DAS FOTOS DE FORMATURA DE JARDIM DA INFÂNCIA – provavelmente você estava sem um dente da frente ou com tersol ou com piolho ou com algum machucado ou pelo menos com um cabelinho daqueles mais malditos (que o cabeleireiro tinha que ter vergonha de cobrar 300 cruzeiros pra fazer). 


O Chinelo da minhoca
Foto = TV Pirata

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

KWA-KIN-DO




- Jaime!
- O que foi?
- Ela tá olhando para nós e sorrindo.
- Quem?
- A moreninha de saia azul e bolsinha branca.
- Aquela ao lado do gigante de calça bege, camisa clara e revólver cinza, que também ta olhando pra nós, mas sem o mesmo sorriso?
- Essa mesmo.
- Então pára de olhar senão ele mata a gente, seu maluco!
- Ele e mais quantos?
- Oswaldo, você não tá legal. A sua lente deve estar com mau contato. O sujeito tem quase dois metros de altura.
- Quem luta Kwa-kin-do não tem medo.
- Kwaqui o quê?
- A arte milenar desenvolvida na Índia pelo mestre Abu-Tawel.
- Não importa de onde isso veio. Se o cara te der um tiro você já era!
- Nada disso, meu amigo. Nós kwaquinducas somos treinados para desviar de balas, entortar o cano da arma e nocautear o agressor usando apenas um golpe de cotovelo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

POLIDEZ E RESPEITO



- Bondoso senhor, o senhor cometeu uma infração e precisa ser punido.
- Mas o que eu fiz?
- Está parado em local proibido.
- O quê?
- Local proibido.
- Mas eu não estou de carro.
- As regras são válidas para veículos e pessoas.
- Mas isso é inaceitável! Um absurdo completo!
- Não desconte em mim, distinto senhor. Não fui eu quem criou as regras.
- E o quê o senhor vai fazer? Vai me multar?
- De forma alguma, senhor. A punição prevista em lei é uma advertência verbal. O senhor parou em local proibido! Eu estou te advertendo verbalmente! E que isso não se repita!
- Acho que não entendi direito. O senhor acaba de me passar um sermão?
- Apenas cumprindo meu dever, senhor.
- Estou atônito. Os policiais deste país cumprem o dever de maneira muito peculiar, devo dizer.
- Não sou policial, senhor. Sou apenas um cidadão de bem. Se eu fosse um policial não teria sido tão condescendente com o senhor.
- Céus! O que um policial faria?
- Coisas terríveis. O senhor ficaria surpreso. A polícia daqui é muito severa quando se trata de cumprir a lei.
- Mas o senhor acha que eu teria uma punição muito pesada se um oficial tivesse me surpreendido parado em local proibido?
- Esta foi a primeira vez que o senhor cometeu este delito?
- Acredito que sim.
- Provavelmente teria apontado o dedo indicador para o senhor.
- Só isso?
- Claro que não. Ele também olharia para o senhor com o mais gelado olhar de reprimenda. O senhor iria se sentir mal por pelo menos uns quinze minutos. Isso lhe ensinaria a lição.
- Digamos que eu fosse reincidente neste tipo de infração.
- Tremo só de pensar...
- O que o policial faria?
- Se fosse um desses policiais truculentos, que gostam de abusar do poder de autoridade que lhes foi outorgado, ou se fosse um dos bonzinhos, que acham que todos merecem uma segunda chance?
- Os dois.
- O primeiro levantaria a voz para o senhor e poderia até lhe puxar a orelha com força moderada. O segundo apenas ameaçaria levantar a voz.
- E depois?
- Depois o quê?
- O que ele faria depois de ameaçar levantar a voz?
- Não faria nada.
- E eu deveria ter medo disso?
- Claro que sim. Quem não teria?
- Mas os policiais não deveriam se ocupar com criminosos de verdade, como assaltantes e homicidas?
- De acordo com a nova política do governo, devemos investir nossos esforços no cidadão comum, a partir de eventos simples do cotidiano, com o objetivo de moldar exemplos de boa conduta dentro da sociedade.
- O que quero dizer é que os policiais deveriam ter outras prioridades.
- Com licença, senhores.
- Pois não?
- Podemos ajudar?
- Vou precisar dos relógios e das carteiras. Caso contrário, serei forçado a atirar.
- Meu bom Deus! Estamos sendo assaltados?
- Era exatamente sobre isso que eu estava falando. Este sim é um criminoso que merece a atenção das forças policiais. Armado e perigoso.
- Devo concordar com o senhor. Ele realmente parece determinado a provocar delitos moralmente inaceitáveis.
- Parado aí, meliante. O senhor está preso.
- É a polícia! Parece que estamos com sorte, meu senhor.
- Faça a bondade de soltar a arma e pedir desculpas aos transeuntes.
- Sim, senhor. Os senhores façam a bondade de aceitar minhas mais sinceras desculpas.
- Diga que está arrependido.
- Estou muito arrependido.
- E me entregue o revólver.
- Não é um revólver. Era só o meu dedo por debaixo da camisa.
- Muito bem então. Vamos analisar a sua conduta. Você é reincidente?
- Eu devo admitir que certa feita constrangi uma senhora a me entregar sua bolsa.
- Nesse caso, terei que apertar seu braço...
- Ai!
- ...dar um puxão de orelha com força moderada...
- Aaaa!
- ...e jogar spray de pimenta em seus olhos.
- Vai fazer isso agora?
- Parece que esqueci meu spray. Mas acho que você já entendeu a mensagem.
- Com certeza. Sinto-me reabilitado.
- Ótimo. Pode seguir então. E quanto aos senhores, vou deixar o telefone do psicólogo da delegacia, em caso de algum trauma emocional causado pelo assalto.
- O assalto não foi nada diante da cena dantesca que acabamos de testemunhar. O senhor oficial acredita ter sido necessária tamanha violência?
- Os senhores me desculpem se os obriguei a assistir a aplicação de uma pena tão severa. Esta vida de policial nos expõe a elevados níveis de estresse, o que acaba por nos deixar um pouco selvagens.
- Desculpem a intromissão, mas estou pasmo com o que acabei de presenciar. O senhor simplesmente deixou que o bandido fosse embora. Que justiça é essa? Ele merecia algo mais efetivo, como ser algemado e pelo menos encaminhado à delegacia.
- O senhor não é daqui, não é mesmo?
- Como o senhor policial adivinhou?
- O senhor está parado em local proibido.
- E não é a primeira vez. Já o adverti há alguns instantes.
- Reincidente, não é mesmo? Acho que terei que elevar o tom da minha voz.

Autoria: O chinelo da minhoca
Imagem: programa Monty Phyton

domingo, 19 de agosto de 2012

O país sem juízo



"Brasil = o direito não funciona, a esquerda não funciona, o 
meio é funcionário, quem tá embaixo é lixo e quem 
tá em cima tá se lixando." 
(O chinelo da minhoca) 


- Senhor Juiz, eu pequei.
- Não tema, minha criança. O Senhor Juiz é misericordioso. Diga-me o que fizeste.
- Roubei um banco.
- Qual banco?
- Do Brasil.
- De qual Estado?
- Pernambuco.
- Lindas praias. Está arrependido, meu filho?
- Muito. O plano foi mal executado e meu bando inteiro foi localizado e preso.
- E o dinheiro?
- Consegui esconder uma parte. A polícia não vai conseguir tirá-lo de mim.
- Eu entendo. Estamos vivendo tempos difíceis e ninguém quer abrir mão de dinheiro. Reze dois “Pais Nossos” e fique quatro anos na cadeia enquanto seu dinheiro rende.
- Obrigado, Juiz. 
- Senhor Juiz, me ajude pois eu errei.
- Prossiga, minha filha.
- Com a ajuda do meu namorado, matei meus próprios pais por motivos fúteis. E errei em acreditar que ele não me entregaria para a polícia.
- Está arrependida?
- Não. Mas meu advogado disse que se eu fingisse estar a pena seria mais branda.
- Ele estava certo. A justiça está do lado dos dissimulados. Reze três “Ave Marias” e pegue nove anos de reclusão em regime fechado, sabendo que no final dos dois primeiros você obterá uma progressão de pena que irá lhe dar direito de passar os finais de semana em casa com seus pais, digo, com seus familiares que você ainda não matou.
- Ainda...
- O que disse?
- Nada.
- Muito bem. Vá em paz.
- Obrigado, Senhor Juiz.
- Senhor Juiz, estamos sendo injustiçados.
- No Brasil? Como isso é possível, meus filhos?
- Estão nos acusando do assassinato de nossa filha. Mas somos inocentes.
- Qual é o álibi de vocês.
- Não temos.
- E existe algum outro suspeito de ter cometido o assassinato?
- Sim. Suspeitamos de um ser maligno que habita os esgotos das grandes metrópoles. Lemos na internet que ele tem poderes sobrenaturais, que permitem que possa invadir prédios em áreas de intenso movimento sem ser notado, sem deixar marcas, pegadas, digitais ou qualquer outro sinal que o incrimine. Sua especialidade é atirar garotinhas indefesas pela janela e produzir vestígios que levem à prisão indevida dos pais das pobres coitadas. O senhor não vai acreditar, mas ele ainda foi capaz de imitar a voz de um de nossos filhos gritando “Não, papai! Não mate a minha irmã!”
- Meu filho. Sinto que vocês não estão sendo honestos comigo. Terei que sentenciá-los a vinte anos de reclusão.
- Tudo bem. Eu confesso. Matamos ela de forma cruel, por motivo torpe e sem lhe dar nenhuma chance de defesa.
- Parabéns. A justiça sabe recompensar os réus confessos. Sua pena será reduzida para quinze anos em regime fechado. Providenciaremos uma cela só para vocês, para que os outros presos não os linchem.
- Seu Juiz, a gente vacilou.
- Como assim, meus filhos.
- Roubamos um carro e acabamos arrastando um garotinho que ficou preso no cinto de segurança. Ele não resistiu e acabou morrendo.
- Absurdo! Vocês pegarão a pena máxima! Serão excomungados e suas almas arderão no inferno! O país ficará mais tranquilo sabendo que bandidos da sua laia estão apodrecendo em uma cela fétida e apertada! Eu mesmo usarei um ferro em brasa para...
- Mas Senhor Juiz, nós somos de menor.
- Nesse caso, estão todos liberados. Naquela salinha ali tem guaraná e alguns biscoitos. E quero que me prometam que não farão mais traquinagens deste tipo, ouviram bem? Ai, ai, ai! (mostrando o chinelo, paternalmente).
- Ouvimos. Valeu, Seu Juiz.
- Essas crianças...
- Carlão, digo, Senhor Juiz, estamos sendo embaraçosamente acusados de participar de um engenhoso esquema de captação e divisão de verbas indevidas.
- Todos vocês?
- Sim. A acusação tem diversas provas incontestáveis em vídeo, gravações telefônicas, testemunhas, extratos bancários, entre outros. Isso é um absurdo. Tantos políticos que já fizeram coisa pior e ninguém ficou sabendo e agora que é nossa vez de dar uma mamadinha todo mundo descobre? Sacanagem...
- Essa é a primeira vez que vocês se envolvem em atividades ilícitas com o objetivo de acumular fortunas com dinheiro público?
- É claro que não. Já somos políticos há vários anos.
- Então não se preocupem que irei pessoalmente rever esse processo e garantir que a justiça prevaleça. Pelo explicitado aqui, creio que vocês podem requerer o benefício de direito adquirido, já que exercem essa atividade de maneira sistemática desde os primórdios de seus mandatos. Vou permitir que respondam em liberdade para que possam conversar com as testemunhas e convencê-las da sua inocência. Um abraço e não esqueçam que é aniversário da Shirley no sábado.
- Caro colega, veja a que ponto chegamos...
- O quê é isso nos seus pulsos? São... algemas?
- Foi horrível. Dois policiais federais me algemaram no meio da rua, na frente de toda aquela gente. Nunca me senti tão humilhado...
- E o que você fez?
- Atropelei e matei algumas pessoas após uma noite de cachaçada, mas isso não importa. Veja como elas estão apertadas! Acho que uma delas está me arranhando.
- Não chore, amigo. Não descansarei até que o Supremo proíba o uso de algemas, os policiais que te prenderam sejam exonerados e que você seja aposentado recebendo salário integral. E não se esqueça: “bem aventurados somos, pois temos direito a foro privilegiado e cela especial”.

Autoria: O chinelo da minhoca
Charge: chargesbruno.blogspot.com

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Coleção fábulas modernas - volume 2


A SAGA DE ZEA MAYS

Ele nasceu numa terra estranha, insólita. Cresceu sem nenhuma orientação. Ninguém que pudesse lhe dar carinho, atenção. Desde cedo aprendeu a ser forte, pois de nada adiantava chorar. Seu lar era um local apertado, quente, escuro. Ele simplesmente não conseguia ver nada. Às vezes escutava ruídos ao seu redor, e um dia compreendeu que não estava sozinho naquele lugar sombrio. Havia outros como ele. Muitos outros. Mas não podiam sequer falar uns com os outros. Ninguém sabia falar. Existência silenciosa...
Um dia, acordou assustado. O chão estava tremendo. Sentiu que algo estava errado. Ouviu um barulho distante, que aos poucos foi aumentando até se tornar ensurdecedor. Ten-tou se mover, mas não conseguiu. De repente, sentiu um forte impacto, como se sua casa tivesse sido arrancada do chão e atirada em um despenhadeiro. E o barulho continuava, e o chão não parava de tremer. Após longos 20 minutos, abruptamente, tudo ficou silencioso. Mas desta vez o silêncio trazia medo e insegurança. Súbito, ele sentiu que sua casa se movia novamente. Sentiu novo impacto, dessa vez um pouco mais forte, e acabou desmaiando...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Coleção fábulas modernas - volume I




O chinelo da minhoca

Monique saiu lentamente da Jacuzzi. O sol estava quente, mas a brisa que soprava do norte tornava o clima deveras agradável. Vestiu seu roupão azul turquesa, colocou seus óculos Armani e calçou o chinelo direito com extrema delicadeza. Ao tentar calçar o esquerdo, sentiu que pisava em algo macio. Olhou para baixo.
Incrível como uma senhora de tamanha etiqueta, educada por lordes das melhores escolas francesas, se converteu de repente na mais tresloucada e escandalosa maluca. Como que tomada por um surto psicótico, correu e saltou pelo jardim como se fosse um avestruz fugindo de um guepardo.  Na verdade, mesmo se o avestruz tivesse uma perna torta e a outra recém-operada do ligamento cruzado anterior do joelho, ele não correria de modo tão estapafúrdio. E o responsável por tamanho escarcéu era um minúsculo ser, que observava o desespero da mulher com um olhar de triunfo. A pequena minhoca posava majestosa sobre o pé esquerdo do chinelo. Sua mente maquiavélica se enchia de júbilo. Seu ego se regozijava diante de tamanha conquista. Sentia orgulho por ter planejado e executado com precisão britânica a primeira parte do plano...
Os animais não conseguiam acreditar. Os gafanhotos ficaram estupefatos quando o cachorro lhes contou a notícia. Os coelhos desmaiaram ao ouvir da coruja sobre o ocorrido. Duas moscas tentaram obter informações de uma aranha e ela as comeu, após deixá-las estarrecidas com os acontecimentos. A cigarra parou de cantar. As formigas pararam de trabalhar. E o feito correu mundo, atravessou continentes e chegou aos ouvidos dos leões africanos.
– Eu não acredito! – gaguejou um deles.
– Ela realmente conseguiu! – disse o segundo.
– A cadeia de eventos teve início! – rugiu o líder do grupo – Preparem-se e aguardem o sinal!
Então, subitamente, o mundo mudou. Podia-se sentir no ar que algo estranho estava prestes a acontecer. Os animais estavam agitados. Arrulhos, berros, sussurros, gorjeios, uivos, grasnados, grunhidos, rugidos, latidos, miados, bramidos, relinchos, enfim, todo tipo de som podia ser percebido. As pessoas se sentiam observadas, vigiadas. Olhos coloridos acompanhavam todos os seus movimentos, e a relação de domínio já não era tão evidente como antes. As bestas aguardavam silenciosas e traiçoeiras pelo início do levante. Era chegada a hora da desforra. A hegemonia sobre o planeta mudaria mais uma vez de mãos. A primeira das eras havia sido vencida pela apocalíptica bola de fogo que cortou os céus e sepultou os répteis gigantes. Em seguida, grande parte do planeta foi enterrada sob grossas camadas de gelo. E agora todo o peso da responsabilidade pairava sobre os ombros de uma criatura sem ombros. A minhoca carregava o fardo de se tornar o arauto de uma nova realidade...
O pequeno anelídeo havia enrolado seu corpo na tira de borracha do chinelo e se esforçava para rastejar até o arbusto mais próximo. Ela sabia que seu feito seria lembrado por décadas, talvez séculos, milênios. Já imaginava a surpresa estampada no rosto de seus familiares. Aquele ato iria finalmente provar a todos o seu valor. Seria promovida a general, e cânticos gloriosos garantiriam a imortalidade de seu nome. Seria cultuada, idolatrada. Um exemplo a ser seguido.
Enquanto a minhoca se contorcia, palavras de ordem eram pronunciadas na penumbra. Dentes e garras eram cuidadosamente amolados para o embate. Estratégias impiedosas eram friamente arquitetadas e enviadas para os principais centros de comando. Um amanhecer sangrento era planejado nos mais ínfimos detalhes. Nada poderia impedir a avalanche que se aproximava.
Ela sabia que conseguiria. Precisava reunir todas as suas forças e rastejar mais alguns centímetros. Atrás do arbusto, uma escolta de formigas e vespas, fortemente armadas, esperava pela chegada da minhoca. Um plano havia sido elaborado para transportar o chinelo até o ponto de encontro, no coração da cordilheira dos Andes, onde os líderes das classes aguardavam ansiosos. E o grandioso sinal finalmente seria dado. E ele se espalharia pelos quatro cantos do mundo, como os ventos da mudança. Apenas cinco centímetros e o destino da humanidade sofreria o mais inesperado revés.
Súbito, Monique reapareceu no jardim. Desta vez, ela estava acompanhada por seu namorado, o valente Harold. A mulher apontou para o chinelo e soltou um gritinho histérico: – É um bicho horrível!
A minhoca relevou a ofensa. – Deixe estar! – pensou – Quando a nova ordem mundial tiver se instalado, você será a primeira a queimar!
O homem começou a se aproximar. A minhoca, percebendo o perigo, acelerou mais ainda o seu rastejar, colocando os seus vários pares de corações a todo o vapor. Faltava muito pouco. Ela estava quase conseguindo. Já podia até ouvir seu nome sendo saudado em sua cerimônia de condecoração. Conseguiu ver as formigas por entre a folhagem. Um grupo de baratas pensou em sair do arbusto e ajudá-la, mas a imagem de um chinelo se aproximando era assustadora demais até para a mais corajosa delas. Todos os grupos que poderiam ter feito a diferença hesitaram. E o pior aconteceu. Harold esticou sua enorme mão e interceptou o chinelo. E a valorosa minhoca era agora refém do inimigo. O reino animal havia sido batido novamente...
O que ocorreu após sua captura foi brutal até para os olhos das mais sanguinárias feras. Sem qualquer possibilidade de defesa ou julgamento justo, a heroína foi condenada ao mais cruel dos castigos. Sua audácia seria punida de maneira exemplar, para desestimular maquinações futuras. A minhoca foi covardemente mutilada em vários pedaços e empalada por pequenas lanças curvadas e pontiagudas, para em seguida ser atirada aos peixes de um enorme lago.
A noite que se seguiu seria lembrada como a mais melancólica de todos os tempos. A escuridão era silenciosa e triste. Uivos e lamentos ecoavam soturnos pela madrugada. Alguns diriam mais tarde que talvez aquele não teria sido o momento certo. Outros chegariam a argumentar que uma centopéia seria o agente mais indicado para o serviço. Mas no final todos se lembrariam daquela corajosa minhoca, que por alguns instantes encheu os ares com o doce perfume da revolução. 

Autoria: O chinelo da minhoca
Autoria do desenho: O chinelo da minhoca


Nota do autor: 
- Historinha da minhoca: repleta de magia, animais falantes, suspense, reviravoltas e mortes macabras, ou seja, um conto de fadas ideal para ler para as crianças...

Nota do autor II:
- Não achou adequada para crianças? Então vai me dizer que um lobo devorando uma vovó, um garoto cortando a mão de um pirata, bruxas sendo queimadas no forno, animais sendo covardemente assassinados (ainda acordo à noite ouvindo o tiro que matou a mãe do Bambi), entre outras barbáries, é adequado para os seus filhos? É hora de rever os seus conceitos...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pequeno pensamento de aniversário

"Toda vez que me sinto velho eu me lembro do Niemeyer e me sinto jovem outra vez..."

Autoria: O chinelo da minhoca

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A liga extraordinária do trauma - a seleção

Como os médicos mais importantes não quiseram participar do projeto, foi aberto um breve processo seletivo para preencher as vagas em aberto da Liga Extraordinária...


Quem serão os médicos selecionados?
Será que eles conseguirão cumprir as metas da Liga?
Será que o Ronaldinho Gaúcho vai emplacar no Atlético?
As respostas a essas e outras perguntas talvez estejam no próximo capítulo. Não percam!

Autoria: O chinelo da minhoca
Autoria do desenho: O chinelo da minhoca (esse minino tá desenhando que é uma beleza...)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

NARRADOR NO BURACO


- Boa noite, amigos telespectadores. Aqui quem vos fala é o sempre incansável Jonas Barra, o seu amigo das madrugadas. Estaremos juntos nas próximas 3 horas, desfrutando de um dos mais importantes campeonatos de buraco da costa leste de Pernambuco. Se você já está cansado de assistir às reprises do canal de cinema e não aguenta mais ficar espiando aqueles idiotas que estão presos dentro daquela casa, aumente o som e fique conosco durante a transmissão de mais um clássico do carteado internacional. E antes do início, a palavra dos patrocinadores. É com você, Drummond.
- Esse torneio é patrocinado por Mineradoras Jacob, “quem mais entende de buraco”, Metrô de São Paulo, “o melhor transporte do buraco”, e Clínica de Proctologia do Morumbi, “sempre cuidando do seu buraco”.
- A criatividade não tem fim. E agora um minuto de silêncio em homenagem aos jogadores de buraco que morreram no final de semana.
- Acidente de carro?
- Buraco na pista.
- Muito triste.
- Que Deus os tenha. E o juiz chama o capitão de cada uma das duplas para decidir quem embaralha e quem vai separar o morto. Alguma previsão para hoje, Drummond?
- As duplas estão muito entrosadas. Acho que hoje teremos uma partida equilibrada e honesta. Espero que não tenhamos os mesmos contratempos que tivemos no ano passado, quando as péssimas condições da mesa prejudicaram o bom andamento da disputa e...
- E começa a contenda. Dodô compra do monte. Escondeu a carta, mas parecia de copas. Descarta um sete de ouros. Chico pega o sete, olha para ele, olha para o lado, para o sete novamente, larga o sete no lixo e compra do monte. Comprou um coringuinha! Que beleza! Que jogada de sorte. A torcida vibra. Vamos ouvir o grito nas arquibancadas.
- Ô Jonas, babaca! Ô Jonas, babaca!
- Que maravilha. Descartou um valete. Benício vai pegar. Pegou. E agora? E agora? O quê será que ele vai fazer? Olha lá. Pega também o sete do lixo e vai descartar o cinco de paus. Não! O oito de espadas? O cinco, o oito, o cinco, descaaaaartaaaaa o quatro de copas na última hora, pegando todo mundo despreparado. E o seu comentário, Drummond?
- Realmente esse tipo de emoção só é sentida em um jogo dinâmico como o buraco, que reúne todas as características de um esporte verdadeiramente instigante. É por essas e outras grandes jogadas que o International Kumite For Olimpic Imbecil Everybody Games está entrando com uma representação junto ao comitê olímpico internacional para que o buraco substitua o handebol nas próximas olimpíadas. Absolutamente desafiador e metódico. Podemos afirmar com toda certeza que este jogo molda os líderes do amanhã e lapida o caráter dos justos, trazendo a harmonia para tudo que...
- E Ricardo ignora o quatro e mete a mão no monte. Rapidamente descarta o três de ouros. Dodô pega o quatro, segue para Chico que pega o três e deixa um nove e segue para Benício que dá uma olhadinha para Dodô e dá uma piscadinha com o olho direito. Dodô devolve a piscadinha e solta um beijinho disfarçado. Benício balança a cabeça dando a entender que não era esse o sinal que ele queria passar e Dodô dá duas piscadas com o olho direito e uma com o olho esquerdo. Benício entendeu o recado e pegou o nove. Drummond, cadê você?
- A linguagem da piscadinha já é antiga no esporte e acabou com vários casamentos. Em 1929, na cidade de Chicago, Peter “olhos de mel” Jones arriscou dar uma piscadinha durante um campeonato regional. Seu parceiro era o notório gângster Al Capone, que pegou seu furador de gelo de prata e...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE?



Brasil. Ano de 2023. Nos últimos anos, a sociedade começou a se sentir ameaçada diante da abertura indiscriminada de centenas de faculdades de medicina, a multiplicação de cursinhos de picaretagem médica de final de semana e a popularização de empresas de medicina do trabalho que contratavam estudantes ao invés de médicos formados. Como resposta, a classe médica foi bombardeada por inúmeras denúncias e ações judiciais. Os processos eram tantos que acabaram motivando os advogados a prestar serviços especializados. Hoje em dia, nenhum paciente vai ao consultório médico sem o seu próprio advogado a tiracolo. E os médicos também começaram a se precaver, e contrataram advogados para orientá-los durante as consultas. Com isso, a relação médico-paciente se transformou em uma relação “advogado-médico-paciente-advogado”, e vários juízes foram convocados para colocar ordem no tribunal, ou melhor, na consulta.
- Todos de pé. Presidindo agora, o excelentíssimo Juiz Andrade Vilela.
- Todos assentados. Declaro aberta a consulta.
- Bom dia, Dona Maria.
- Protesto. A doutora está partindo do pressuposto que toda paciente do SUS se chama “Dona Maria”. Artigo 128, inciso 14, parágrafo 3: estigmatização da paciente.
- Protesto aceito. A paciente deverá se identificar. Qual é o seu nome, Dona Maria? Quero dizer, qual é o nome da senhora?
- É Dona Maria mesmo.
- E qual é o seu problema, Dona Maria?
- Protesto. A doutora está insinuando que a minha cliente é problemática.
- Protesto aceito. A doutora deverá reformular a pergunta.
A médica discute com sua advogada para encontrar a melhor maneira de abordar a paciente.
- A bondosa senhora poderia nos relatar, por obséquio, qual o motivo da sua presença mais do que bem vinda ao meu humilde e respeitado consultório, honesto e autorizado pela prefeitura e pela Vigilância Sanitária?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

PÂNICO NO 747


A aula de patologia era entediante. O professor mostrava intermináveis slides sobre células tumorais no fígado. Na verdade, eu não estava olhando para as fotos, e sim para a lista de chamada que passava vagarosamente de mão em mão. Eu ansiava pelo momento mágico em que finalmente assinaria aquele papel. E então, liberdade! Não precisaria ficar naquele inferno, pois meu compromisso para com a universidade estaria saldado. Meu nome era a prova cabal de que estive presente. Estaria livre para desfrutar de uma partidinha de truco com os amigos. Simples e direto. Talvez a vida se resumisse em uma grande sala de aula, onde todos aguardam pela lista de chamada do sucesso. Isso mesmo. Quem coloca o nome nela resolve todos os seus problemas. E alguns chegam a tê-la em suas mãos, mas não podem assinar por falta de caneta. Perdem a oportunidade. Outros conseguem uma emprestada, mas então precisam assinar o nome dessa outra pessoa e compartilhar a conquista. Felizardo é o que pode assinar com sua própria caneta...
- Estamos agora sobrevoando o Atlântico.
Era a aeromoça do 747 que, com sua voz melodiosa, me libertava dos braços de Morfeu e acabava com meu sonho nostálgico e reflexivo.
- Se olharem pela janela, poderão apreciar esse lindo oceano.
Decidi dar uma olhadinha. Abri os olhos e virei o rosto para a esquerda, mas para meu espanto, tudo que consegui ver foi uma grande escuridão. Fiquei cego!!! Estava prestes a entrar em pânico, mas felizmente percebi o motivo da minha deficiência visual. Ainda estava usando aqueles ridículos óculos para dormir, que a companhia aérea coloca na segunda classe para que todos durmam rápido e esqueçam de reclamar da comida. Retirei-os e finalmente observei a paisagem. Bonita, mas nada especial para quem está acostumado a viajar para a Europa. O mesmo bom e velho oceano, o céu azul que parecia se misturar às águas, as nuvens brancas de formas e tamanhos variados, os pássaros, a fumaça acinzentada saindo da asa, o piloto descendo suavemente de pára-quedas, o co-piloto caindo rapidamente sem o pára-quedas...

sábado, 24 de março de 2012

Quem salvará a pele da dermatologia?

Triste realidade atual no Brasil: os dermatologistas "de verdade" estão se tornando minoria. Na verdade acho que até poderia afirmar que os especialistas "de verdade" estão se tornando (ou irão se tornar) minoria em várias especialidades, e não só na dermatologia. Apenas para situar o leitor = quando eu digo "de verdade", entre aspas, estou me referindo ao médico que tem título de especialista registrado no conselho de medicina, o que o habilita a bater no peito e urrar sua especialidade por aí sem correr riscos de levar um pito dos conselhos regionais de medicina. Vale lembrar que não fui eu que criei essa “verdade” (que fique claro para os pitizentos e seus departamentos jurídicos que esse é o entendimento do Conselho Federal de Medicina, desde que este afirma que apenas o médico com especialidade registrada pode se afirmar especialista), e nem estou querendo dizer que todos os outros seriam “de mentira” (apesar de acreditar que grande parte está brincando de andar na montanha russa das especialidades médicas).
Tudo esclarecido, continuemos então falando da dermatologia, que me parece ser o principal alvo da triste realidade citada anteriormente. Atualmente existem os "de verdade" e os "não reconhecidos como especialistas por não possuírem título ou por não ter regularizado sua situação perante o seu conselho regional e que, dessa forma, estão agindo em desacordo ao código de ética médica quando se afirmam ou se fazem entender como sendo especialistas em dermatologia" (legal esse negócio de colocar aspas - minha assessoria jurídica me ensinou). Sei que corro o risco de ofender pessoas do segundo grupo, então deixo a opção de substituírem, se isso lhes apetece, a expressão "de verdade" pela expressão "dermatologista", e a segunda definição entre aspas pode ser substituída por "não-dermatologista segundo o conselho de medicina" ou "estou tentando me tornar dermatologista, mas ainda não o sou" ou “sou dermatologista mas estou sem tempo para registrar o meu título” ou qualquer outra variação que signifique qualquer coisa menos dermatologista, pois assim regem as normas éticas do nosso conselho. 
Deixando de lado as delongas juridicamente necessárias quando se escreve um manifesto em que existe grande risco de se pisar em calos, retorno então ao tema principal. Quando a Chapeuzinho resolve encurtar o caminho até a casa da vovó, pegando atalhos pela floresta, ela corre o risco de ser abordada pelos lobos maus, que irão provavelmente tomar o seu dinheiro e guloseimas, deixando a pobre criança com sua cesta vazia, sem nada a oferecer que satisfaça a fome da pobre vovozinha (traduzindo para quem não entende muito de fábulas, moral da história ou metáforas: o médico que quer encurtar o caminho para o título de especialista, seguindo por caminhos não tradicionais, obscuros, repletos de falsas promessas, corre o enorme risco de gastar dinheiro para aprender de uma forma abaixo da ideal, e quando chegar ao consultório não terá muito o que oferecer ao paciente que o procura ansioso por um tratamento satisfatório). Existe um caminho na medicina que leva à um nível de conhecimento inquestionável, que é o aprendizado supervisionado em regime de dedicação exclusiva. Quando a supervisão e/ou a dedicação são insuficientes, o médico pode ter sua formação comprometida, dificultando a sua aprovação em provas de título de especialista ou o preparando de forma inadequada para o mercado de trabalho. Por isso o conselho foi categórico ao declarar em seus pilares éticos que o especialista deve ter sua condição comprovada pelo registro do título, coisa que não é todo mundo que consegue alcançar. Mas isso não é empecilho em um país fraco em termos de fiscalização como o Brasil. Aqui quem tem dinheiro consegue o que quer de um jeito ou de outro. Os médicos que não chegam a se tornar especialistas, mas que agem como tal, ignorando os preceitos éticos da classe, estão se multiplicando e se infiltrando em todos os níveis da nossa sociedade, acobertados pela já tradicional impunidade que mancha nossa desacreditada justiça.  E afirmar que se é especialista sem de fato o ser está se tornando tão comum que já existem entidades paralelas que se declaram como sendo "sociedades (ou academias) que possuem suas sedes no mesmo quarteirão onde funciona uma padaria que vende uma revista que veicula um anúncio de um curso pré-vestibular direcionado para alunos que querem ingressar em uma faculdade reconhecida por um certo ministério (que nem vou falar qual é porque tenho medo de ficar com cáries só de expor minha boca a um nome de reputação atual tão desgastada)" ou, para encurtar, "sociedades reconhecidas pelo beque". Percebam que a palavra "beque" está apenas funcionando como alegoria fonética, já que foi explicado anteriormente que não citaria o nome do tal ministério que reconhece ou autoriza a abertura de qualquer boteco que lhe ofereça desconto no chopp. 
Porém, voltemos ao discurso principal, já que estou inclinado a me perder em devaneios e estratégias de desvio de balas perdidas. Como dizia anteriormente a situação está complicada, pois estão surgindo profissionais de formação altamente duvidosa, com riscos para a sociedade que dorme despreocupada. A inocente sociedade não percebe o risco que corre e nem que este risco tende a crescer exponencialmente em um futuro próximo. E, além dos profissionais espertões, tem mais gente achando tudo isso ótimo: as indústrias farmacêuticas já perceberam que só tem a ganhar patrocinando profissionais que se encaixam no que eu chamo de "dark side" da medicina, que seria o segmento médico que se preocupa em alcançar altos patamares de respaldo e remuneração no menor tempo possível e independente do custo financeiro ou ético que isso possa acarretar, se esgueirando pelas brechas do sistema e exigindo os mesmos direitos sem ter que cumprir os mesmos deveres. Laboratórios que se diziam dedicados à dermatologia agora se dedicam a qualquer coisa que comece com derma ou med e termine com logia ou estética, etc. Algumas empresas investem pesado em certos grupos de médicos interessados em dermatologia, pois eles são uma presa fácil, por não possuírem conhecimento suficiente para avaliar de forma crítica o que lhes é anunciado (ex: qualquer creminho de gosma de caracol passa a ter local de destaque no arsenal lamacêutico dessa turminha que acredita em creme pra celulite, disco voador e cursinhos de final de semana), aceitam mais facilmente os acordos de "parceria" remunerada (até porque o exemplar do código de ética médica desse povo deve estar escrito em polonês e servindo de calço para o pé da mesa) e provavelmente já contam com mais membros que a única sociedade de dermatologia que é filiada à Associação Médica Brasileira. A dermatologia está deixando de ser especialidade e está virando assunto, cursinho, hobby, comércio, clubinho, até mesmo subespecialidade de quem não é especialista em nada. Nosso futuro como pacientes acometidos por perebas, birrugas e outras ziquiziras infelizmente parece incerto, pois os dermatologistas devidamente registrados crescem em ritmo muito mais lento que os sem registro, além do fato que os profissionais éticos se tornam ofuscados pelos que reivindicam publicamente em todos os meios de comunicação a autoria de seus milagres (contrariando o código de ética que condena as atitudes de autopromoção sensacionalistas)  e que sofrem apenas uma vez ou outra alguma punição que mais parece tapinha na mão e dormir sem sobremesa. Isso sem nem citar o fato de que algumas categorias profissionais fora da medicina resolveram se aproveitar da demora da aprovação da Lei do Ato Médico para praticarem atos que até pouco tempo atrás eram realizados apenas por médicos (é uma terceira categoria, que irei classificar de forma não oficial como "não reconhecidos como especialistas em dermatologia, pois deveriam estar presos por prática ilegal da medicina pra começo de conversa" ou como "camarada que consegue ser mais cara de pau que o Pinóquio quando acha que é só colocar a palavra "estética" no final do nome do curso para se habilitar a fazer o que lhe der na telha e que só não dou uma na cara dele porque abomino a violência e tenho alergia a óleo de peroba"). É muito triste mesmo, e não só para a dermatologia, talvez a maior vítima depois do paciente, mas para toda a medicina. Parece que em algum momento do passado a figura do especialista confiável sofreu uma ruptura múltipla de órgãos, do tipo que nem dá pra estancar o sangramento, e agora a observamos no CTI, com o abdome cheio de compressas, fazendo apenas o controle de danos e rezando para que ela não evolua para o óbito. Me desculpem a revolta. Tenho acompanhado de perto as dificuldades das sociedades sérias de especialistas e até estou vendo com gosto que muito tem sido feito para proteger a medicina em geral, mas principalmente a dermatologia. O problema é que também vejo muita coisa errada surgindo em ritmos frenéticos, o que me dá a impressão que para cada boa notícia surgem logo três ou quatro ruins. Atualmente as boas sociedades estão dependendo tanto dos departamentos jurídicos para tentar corrigir o que está errado, que tenho receio que uma hora eles percebam a grande brecha na nossa legislação e criem a advocacia estética, o conselho de estética do senado, o código de estética médica ou qualquer outra variação de estética utilizada como sufixo e/ou pretexto para mais um golpe de picareta no peito da medicina que um dia jurou frases rebuscadas sob a sombra de Hipócrates. Encerro meu desabafo pedindo desculpas aos colegas de bem que podem ter se assustado com minhas previsões apocalípticas no melhor estilo "2012". Também peço desculpas aos colegas que se sentirão ofendidos a ponto de querer sair da floresta e seguir novamente pela estrada (lembram da metáfora da Chapeuzinho?). Aos colegas que habitam as profundezas do "dark side", apenas desejo que esse texto possa ser uma luz para os pacientes que ainda dormem despreocupados. 
* Em tempo = esse texto não foi autorizado pelo "beque", mas não pelo seu conteúdo, e sim pela falta de dinheiro do autor. 

Autoria = O chinelo da minhoca