"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados
insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
Friedrich Nietzsche
Era tarde da noite quando o doutor Evandro foi chamado para avaliar um paciente na ala psiquiátrica. O imenso prédio era mal iluminado e um tanto quanto assustador, mesmo quando bem iluminado pela luz do dia. Os corredores eram amplos e o mais leve ruído parecia ecoar pelas paredes descascadas de todo o andar. O médico foi levado ao encontro de um homem franzino e descabelado, que estava deitado completamente nu sobre uma pequena maca em um quarto isolado no final do corredor.
- Loucura. Tudo é louco. O planeta é louco, fica girando, translando, rotando sem parar. Rotando ou rodando? Não importa. O que importa é o sentido. Para a direita ou para a esquerda? – dizia o alucinado, falando de maneira rápida e quase ininterrupta, lembrando até uma locução de futebol pelo rádio.
O doutor ficou observando o homem por alguns instantes antes de abordá-lo. Observava a postura estática, o olhar perdido, a voz rouca e anasalada. Alguns instantes se passaram e finalmente decidiu questioná-lo.
- Senhor Almeida. Sou o médico que está cuidando do seu caso. Podemos conversar um pouco? – disse de maneira educadíssima.
- Todos são loucos. Loucos por dinheiro, poder, ingressos para o show da Madonna. Querem tudo. Querem você. Mas você também é louco – continuou o homem sem ao menos mudar o tom de voz.