sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Ele e ela



O homem entrou na floricultura com a intenção de comprar algumas rosas vermelhas para sua noiva.
Ele era romântico.
Do outro lado da cidade, a noiva do homem trocava olhares maliciosos com um amigo do trabalho.
Ela era bonita e provocante.
Utilizando um binóculo para permitir uma melhor leitura labial, alguém observava a noiva do homem.
Ele era um espião contratado pelo homem.
O homem recebe uma mensagem no seu celular, dizendo aquilo que nenhum homem gostaria de escutar.
Ele era corno.
A noiva do homem estava agora em um motel, e trocava beijos e carícias com o amigo do trabalho.
Ela era uma traidora.
O homem devolveu as rosas na floricultura e saiu cabisbaixo, chorando como uma criança que perdeu o seu doce.
Ele era sensível.
O espião subiu em uma grande árvore para tentar ver o que estava acontecendo naquele quarto de motel.
Ele era um pervertido.
O homem parou de chorar e ligou para o espião, perguntando onde estaria a sua noiva neste exato momento.
Ele era um corno curioso.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para o amigo do trabalho e balançava a cabeça, irritada por não se sentir satisfeita.
Ele era um ejaculador muito precoce.
O homem revirava todos os armários de sua casa, procurando o dinheiro que estava escondido para emergências.
Ele era um homem precavido.
A noiva do homem decidiu ligar para outros cinco amigos do trabalho e convidou a todos para uma festinha naquele quarto de motel.
Ela era insaciável.
O espião enviou uma nova mensagem para o homem, relatando todos os acontecimentos e descrevendo todos os envolvidos.
Ele era muito eficiente.
O homem levou o dinheiro até um beco escuro, onde outro homem o aguardava com um grande embrulho.
Ele era um traficante de armas.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para os amigos do trabalho e balançava a cabeça, irritada por não se sentir satisfeita.
Eles eram ejaculadores ainda mais precoces que o primeiro amigo.
O homem comprou uma grande arma e tratou de se encaminhar para o motel onde estaria a sua noiva.
Ele era agora um homem armado e perigoso.
O espião tentava aconselhar o homem a não fazer nenhuma loucura, como por exemplo, matar a noiva e todos que estivessem com ela.
Ele era um homem que agia dentro da lei.
A noiva ligou para todos os outros amigos do trabalho e os convidou para uma imensa orgia no quarto do motel.
Ela era muito promíscua.
O homem chutou a porta do quarto com a força de um aríete, assustando os dois homens que estavam se abraçando lá dentro.
Era o quarto errado.
O espião ligou para a polícia quando percebeu que o homem estava prestes a cometer um crime.
Ele era um espião honesto, e não seria cúmplice daquilo.
A noiva do homem fumava um cigarro, enquanto olhava feio para os homens e balançava a cabeça, irritada por trabalhar num grupo de terapia para ejaculadores precoces.
Eles realmente precisavam de ajuda.
O homem chutou a porta do quarto com a força de um touro, assustando um jogador de futebol e três travestis que estavam se abraçando.
Era o quarto errado mais uma vez.
A mulher sugeriu que todos os amigos tentassem novamente, agora que já estavam descansados.
Ela era uma ninfomaníaca.
Os policiais bem que tentavam chegar ao motel, mas não conseguiam sair daquele gigantesco congestionamento.
Era hora do rush.
O homem bateu três vezes na porta de outro quarto do motel, com extrema delicadeza e respeito.
Era melhor ter certeza antes de sair chutando outra porta errada.  
A noiva do homem gritou que agora não podia atender a porta, pois estava muito ocupada.
Era o quarto certo.
O homem chutou a porta com a força de um leão, assustando a noiva e os amigos da noiva, que estavam se abraçando.
Era chegada a hora de matar e usar a desculpa da insanidade temporária.
A noiva do homem começou a chamá-lo de benzinho e a explicar que aquilo tudo era um grande mal entendido.
Ela era uma dissimulada.
O homem gritou palavrões e sapecou mais de trinta tiros com sua metralhadora. 
Ele havia se tornado um homem vingativo e impulsivo.
A metralhadora disparava sem parar.
Ela era semi-automática.
As balas acabaram e o homem percebeu que não tinha acertado absolutamente ninguém.
Ele era um homem de péssima pontaria.
O latido dos cachorros e o barulho das sirenes anunciaram a chegada da polícia ao motel.
            Era hora de fugir.
            O homem saltou o muro dos fundos do motel, entrou no seu carro e saiu levantando poeira.
            Ele agora era um foragido.
           A noiva do homem convidou todos os policiais para participarem da festinha que ela estava dando no quarto do motel.
            Ela realmente não tinha conserto.

Autoria: O chinelo da minhoca
Imagem: internet