quarta-feira, 26 de setembro de 2012

LEMBRANDO DAS FOTOS DO INÍCIO DA DÉCADA DE 1980



ESTILO DAS FOTOS = Se você revirar no fundo do armário, provavelmente vai achar fotos de 1982 (no fundo de alguma caixa de sapatos, talvez daquelas fotos quadradinhas, de uma época em que algum executivo achou que fotos quadradinhas com cantos arrendondados seriam um sucesso), sendo que todas tem as mesmas cores, meio amareladas de péssima qualidade, como se o tempo estivesse nublado o tempo todo, o mesmo formato, os mesmos figurantes com roupas estranhas, cabelos cafonas e óculos escuros marrom. Legal como os nossos pais tinham uma péssima noção de enquadramento ou então gostavam de tirar fotos enquanto bêbados (exemplo: foto do cotovelo da sua mãe na praia). O pior de tudo é que provavelmente algumas fotos são em preto e branco (é isso mesmo = você tá ficando velho, xará!), em plenos anos 80, sabe-se lá o porquê.
ESTILO DOS TIOS =
- estilo 1 = sem camisa, meio careca, com correntinha de santo no pescoço;
- estilo 2 = barbudo também sem camisa ou com camisa de botão aberta pra mostrar o peito cabeludo;
- Restante dos tios que aparecem no fundo das fotos = pelo menos dois dos tios usa um óculos escuro marrom e quadradão e uns outros três estão fazendo chifrinho na cabeça dos sobrinhos (naquela época o bullying de tio para sobrinho era muito comum e metade das brincadeiras sem graça que já fizemos com outras pessoas aprendemos na infância com nossos tios).
ESTILO DA TIAS =
- as mais novas = cabelo armado estilo Jane Fonda ou aquela mulher do filme “Mulher nota mil”.
- as mais velhas = idem.
- Se ao ar livre ou reuniões informais = vestido largo e com cores primaveris;
- Se formal, pelo menos 4 estão com uma camisa que exibe um belo par de ombreiras (estilo futebol americano).
ESTILO DAS CRIANÇAS = em primeiro lugar deve-se salientar o número exagerado de crianças nas fotos, porque os nossos pais tinham muitos irmãos e todos resolveram ter filhos na mesma época – é uma primaiada que não acaba mais (em algumas fotos tem tanta criança que as maiores estão com as menores no colo). Provavelmente vai ter um tanto de criança em volta de uma mesa com bolo de aniversário, uma garrafa de vidro de coca-cola e talvez até uma lata de sorvete da Kibom (lata mesmo, de metal!!! E era uma merda de abrir aquela lata!!!).
- Pelo menos uma criança com agasalho da adidas ou camisa xadreza estilo festa junina.
- Pelo menos duas com short muito curto (adidas provavelmente = lembra que nessa época quase todo índio que aparecia na Globo ou na revista Manchete usava shortinho da Adidas? E esse shortinho era bem no estilo da seleção brasileira de 1982 e com as cores mais comuns da época – vermelho ou azul escuro e, de vez em quando, verde pra combinar com a camisa da seleção).
- Pelo menos uma criança com camiseta regata com estampa de desenho animado (Thundercats).
 - As meninas ou estão com cabelo curtinho, parecendo menino, ou de Maria Chiquinha.
ESTILO DOS CARROS – quase tudo fusca ou chevete ou Passat ou Belina ou opala ou gol ou bicicleta sem marcha. Pick-up? D10! Daquelas que soltavam uma fumaça danada de diesel que intoxicava qualquer pessoa num raio de 2 quilômetros.
ESTILO DAS FOTOS DE FORMATURA DE JARDIM DA INFÂNCIA – provavelmente você estava sem um dente da frente ou com tersol ou com piolho ou com algum machucado ou pelo menos com um cabelinho daqueles mais malditos (que o cabeleireiro tinha que ter vergonha de cobrar 300 cruzeiros pra fazer). 


O Chinelo da minhoca
Foto = TV Pirata

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

KWA-KIN-DO




- Jaime!
- O que foi?
- Ela tá olhando para nós e sorrindo.
- Quem?
- A moreninha de saia azul e bolsinha branca.
- Aquela ao lado do gigante de calça bege, camisa clara e revólver cinza, que também ta olhando pra nós, mas sem o mesmo sorriso?
- Essa mesmo.
- Então pára de olhar senão ele mata a gente, seu maluco!
- Ele e mais quantos?
- Oswaldo, você não tá legal. A sua lente deve estar com mau contato. O sujeito tem quase dois metros de altura.
- Quem luta Kwa-kin-do não tem medo.
- Kwaqui o quê?
- A arte milenar desenvolvida na Índia pelo mestre Abu-Tawel.
- Não importa de onde isso veio. Se o cara te der um tiro você já era!
- Nada disso, meu amigo. Nós kwaquinducas somos treinados para desviar de balas, entortar o cano da arma e nocautear o agressor usando apenas um golpe de cotovelo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

POLIDEZ E RESPEITO



- Bondoso senhor, o senhor cometeu uma infração e precisa ser punido.
- Mas o que eu fiz?
- Está parado em local proibido.
- O quê?
- Local proibido.
- Mas eu não estou de carro.
- As regras são válidas para veículos e pessoas.
- Mas isso é inaceitável! Um absurdo completo!
- Não desconte em mim, distinto senhor. Não fui eu quem criou as regras.
- E o quê o senhor vai fazer? Vai me multar?
- De forma alguma, senhor. A punição prevista em lei é uma advertência verbal. O senhor parou em local proibido! Eu estou te advertendo verbalmente! E que isso não se repita!
- Acho que não entendi direito. O senhor acaba de me passar um sermão?
- Apenas cumprindo meu dever, senhor.
- Estou atônito. Os policiais deste país cumprem o dever de maneira muito peculiar, devo dizer.
- Não sou policial, senhor. Sou apenas um cidadão de bem. Se eu fosse um policial não teria sido tão condescendente com o senhor.
- Céus! O que um policial faria?
- Coisas terríveis. O senhor ficaria surpreso. A polícia daqui é muito severa quando se trata de cumprir a lei.
- Mas o senhor acha que eu teria uma punição muito pesada se um oficial tivesse me surpreendido parado em local proibido?
- Esta foi a primeira vez que o senhor cometeu este delito?
- Acredito que sim.
- Provavelmente teria apontado o dedo indicador para o senhor.
- Só isso?
- Claro que não. Ele também olharia para o senhor com o mais gelado olhar de reprimenda. O senhor iria se sentir mal por pelo menos uns quinze minutos. Isso lhe ensinaria a lição.
- Digamos que eu fosse reincidente neste tipo de infração.
- Tremo só de pensar...
- O que o policial faria?
- Se fosse um desses policiais truculentos, que gostam de abusar do poder de autoridade que lhes foi outorgado, ou se fosse um dos bonzinhos, que acham que todos merecem uma segunda chance?
- Os dois.
- O primeiro levantaria a voz para o senhor e poderia até lhe puxar a orelha com força moderada. O segundo apenas ameaçaria levantar a voz.
- E depois?
- Depois o quê?
- O que ele faria depois de ameaçar levantar a voz?
- Não faria nada.
- E eu deveria ter medo disso?
- Claro que sim. Quem não teria?
- Mas os policiais não deveriam se ocupar com criminosos de verdade, como assaltantes e homicidas?
- De acordo com a nova política do governo, devemos investir nossos esforços no cidadão comum, a partir de eventos simples do cotidiano, com o objetivo de moldar exemplos de boa conduta dentro da sociedade.
- O que quero dizer é que os policiais deveriam ter outras prioridades.
- Com licença, senhores.
- Pois não?
- Podemos ajudar?
- Vou precisar dos relógios e das carteiras. Caso contrário, serei forçado a atirar.
- Meu bom Deus! Estamos sendo assaltados?
- Era exatamente sobre isso que eu estava falando. Este sim é um criminoso que merece a atenção das forças policiais. Armado e perigoso.
- Devo concordar com o senhor. Ele realmente parece determinado a provocar delitos moralmente inaceitáveis.
- Parado aí, meliante. O senhor está preso.
- É a polícia! Parece que estamos com sorte, meu senhor.
- Faça a bondade de soltar a arma e pedir desculpas aos transeuntes.
- Sim, senhor. Os senhores façam a bondade de aceitar minhas mais sinceras desculpas.
- Diga que está arrependido.
- Estou muito arrependido.
- E me entregue o revólver.
- Não é um revólver. Era só o meu dedo por debaixo da camisa.
- Muito bem então. Vamos analisar a sua conduta. Você é reincidente?
- Eu devo admitir que certa feita constrangi uma senhora a me entregar sua bolsa.
- Nesse caso, terei que apertar seu braço...
- Ai!
- ...dar um puxão de orelha com força moderada...
- Aaaa!
- ...e jogar spray de pimenta em seus olhos.
- Vai fazer isso agora?
- Parece que esqueci meu spray. Mas acho que você já entendeu a mensagem.
- Com certeza. Sinto-me reabilitado.
- Ótimo. Pode seguir então. E quanto aos senhores, vou deixar o telefone do psicólogo da delegacia, em caso de algum trauma emocional causado pelo assalto.
- O assalto não foi nada diante da cena dantesca que acabamos de testemunhar. O senhor oficial acredita ter sido necessária tamanha violência?
- Os senhores me desculpem se os obriguei a assistir a aplicação de uma pena tão severa. Esta vida de policial nos expõe a elevados níveis de estresse, o que acaba por nos deixar um pouco selvagens.
- Desculpem a intromissão, mas estou pasmo com o que acabei de presenciar. O senhor simplesmente deixou que o bandido fosse embora. Que justiça é essa? Ele merecia algo mais efetivo, como ser algemado e pelo menos encaminhado à delegacia.
- O senhor não é daqui, não é mesmo?
- Como o senhor policial adivinhou?
- O senhor está parado em local proibido.
- E não é a primeira vez. Já o adverti há alguns instantes.
- Reincidente, não é mesmo? Acho que terei que elevar o tom da minha voz.

Autoria: O chinelo da minhoca
Imagem: programa Monty Phyton