segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Workshop : Como azucrinar a vida do seu médico

Para alcançar o objetivo, devemos nos concentrar exclusivamente no fator tempo. Tempo é dinheiro. Se você quer realmente invocar a ira dos médicos, trate de gastar o seu precioso tempo. E isso já deve começar na marcação da consulta. O horário de marcação da sua consulta é muito importante e você tem várias opções interessantes. Marcando no primeiro horário, você tem a chance de engarrafar a agenda do dia inteiro, provocando um atraso que dificilmente será compensado. Marcando no final do dia, você corre o risco de encontrar um médico cansado, apresentando sinais de desidratação e alguns tiques nervosos. Se você é do tipo que gosta de dar o tiro de misericórdia, esse é o melhor momento, mas acontece que ele pode estar tão desgastado que não vai nem ligar muito se você desgraçar um pouco mais a sua vida. Uma vez que tenha decidido em relação ao horário, marque a consulta com antecedência, confirme um dia antes e, no dia combinado, simplesmente não apareça e não dê nenhum tipo de satisfação. Depois, ligue novamente e marque outra consulta. Confirme de novo. Desta vez, ligue apenas alguns minutos antes do horário da consulta (pois aí não dará tempo da secretária agendar alguém no seu lugar), dê uma desculpa esfarrapada para não poder comparecer e peça para remarcar para outro dia. Memorize o número do telefone da clínica. Quando a secretária ligar para confirmar, simplesmente não atenda, deixando um certo suspense no ar. Agora você já pode iniciar a fase dois: “chegando à recepção do consultório”.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Cotas

Agora o governo decidiu reservar vagas em instituições superiores de ensino para a entrada de negros. Alega-se que a maioria dos estudantes que se enquadra nessa categoria é de classe social mais baixa, com pouca renda. Seria então uma medida de inclusão social, ou uma “ação afirmativa”, colocando os injustiçados dentro de grandes e renomadas faculdades, permitindo que se tornem membros influentes da sociedade, com capacidade para tomar iniciativas que diminuam cada vez mais as diferenças do nosso país. Uma atitude louvável, porém, a meu ver, racista. Muitos dos que concordam com essa idéia estão assumindo publicamente que os negros não são inteligentes o suficiente para competir com os brancos. “Eles não conseguem entrar na faculdade sozinhos. Coitados. Devem ser burros”. Isso é que é preconceito. Por isso irão distribuir vagas de lambuja para que eles entrem sem ter que mostrar o mesmo desempenho dos brancos. Ridículo. Isso só pode ser consciência pesada. A sociedade escravista está querendo se desculpar pelos anos de chibatadas? Todas as pessoas possuem o mesmo potencial, sejam elas negras, amarelas, verdes ou cor de rosa. O que falta para alguns é melhor preparo. Se a maioria negra é menos abastada, fica impossibilitada de pagar escolas de qualidade ou cursinhos pré-vestibular com professores e material de ponta. Ou seja, o que precisamos é garantir educação de qualidade para que eles possam disputar as vagas do vestibular em condição de igualdade. Por que não se investe mais em criação de escolas e cursinhos públicos de boa qualidade? Porque é caro. É mais barato colocar os pobres direto na faculdade. Quer dizer, os pobres que são ou que se dizem negros. Os brancos pobres que se explodam (foram excluídos até das medidas de inclusão social). E quem saiu lucrando com isso tudo? Os negros que não são pobres, pois além de poderem pagar bons estudos, ainda irão entrar com facilidade nas grandes universidades. E o melhor é que basta que a pessoa se declare negra, parda, bronzeada ou marrom bombom para ter direito ao benefício (isso aqui é o Brasil, baby. Alguém aí duvida que daqui a alguns anos a maioria dos candidatos vai se declarar negra?). Parece que o problema todo é o dinheiro, não é? Então vamos fazer cotas para pobres, e não para uma raça específica. E alguém vai dizer: “Isso já existe. São as cotas para quem estudou em escola pública”. É a mesma coisa. Ainda assim estaríamos tapando o sol com a peneira. O que deve ser feito é melhorar lá atrás e não ficar dando vagas para tentar compensar todos os anos de negligência. Será que a solução do governo para os subnutridos é deixá-los passar fome por dezessete anos para depois presenteá-los com um grande filé?
* Antes que alguém venha me criticar, quero lembrar que opinião é igual bunda: todo mundo tem a sua.

Autoria: O Chinelo da Minhoca

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Parodiando Veríssimo

* Esse texto foi feito inspirado no texto "Pais e Filhos", de Luiz Fernando Veríssimo.

Vampiros

- Filho, onde está você?
- Pai? O quê faz aqui?
- Vim ver como você está. Interessante seu castelo. Pequeno, mas interessante. Onde estão seus vassalos? Preciso que peguem meus pertences na carruagem.
- Não tenho vassalos. E isso aqui é um apartamento.
- Não tem vassalos? E quem são esses garotos?
- Ah, desculpe. São os meus colegas de república. Estes são Martin e Ivan. E esse é o meu pai, o Conde.
- Os escravos tem nomes peculiares nessa região. Peguem minha bagagem.
- Amigos, podem ir na frente. Eu encontro vocês na faculdade. Pai, eles não são escravos. São estudantes como eu.
- Claro. Já entendi. Você os atraiu para cá. Já mordeu algum deles? Aquele gordinho parece ser bem suculento.
- Não. Eu não atraí ninguém. Eles moram aqui. Nós estamos dividindo este apartamento.
- Mas com todo aquele dinheiro que lhe mandei... As coisas devem ser muito caras aqui na Bulgária. Lá na Romênia você estaria vivendo sozinho, como um rei.
- Pai, eu não usei o dinheiro como você mandou. Eu gastei com outras coisas. Por isso não sobrou muito e tive que dividir os gastos com alguns amigos.
- Quer dizer que você não é dono de nenhum castelo nas montanhas?
- Não.
- Não subornou criminosos para que eles assumissem as suas carnificinas?
- Não cometi nenhuma. Desculpe-me, mas eu preferi investir na minha educação, ao invés de gastar com essas extravagâncias. Ingressei em uma faculdade de medicina. Estou quase me formando.
- Mas o que foi que deu em você? Suas cartas diziam que você estava aterrorizando os vilarejos, atacando os camponeses, tornando a noite um lugar sombrio e incerto. Todas aquelas palavras bonitas eram mentiras?