Sandrinha armou a mão, pegou impulso e desferiu um violento tapa contra o rosto de Elisângela.
Elisângela rodopiou no mesmo lugar, soltou um gritinho discreto e devolveu o tapa na mesma intensidade, mesma direção e em sentido oposto, seguindo à risca a terceira lei de Newton.
O tapa devolvido não atingiu Sandrinha em cheio. Pegou meio mascado, fazendo mais “tum” do que “paf”, o que para alguns especialistas seria definido não como um tapa, mas como um pescoção. Sandrinha ficou possessa, pois nunca na vida tinha levado pescoção, ou pescocinho, ou pescotapa, ou qualquer variedade de ato violento com nome de goela.
Engraçado como os homens não costumam separar briga de mulher. Alguns até chegam a fazer um cordão humano para delimitar melhor a área do combate, de forma que as combatentes não saiam e os separadores de briga não entrem.
A única pessoa que queria separar as duas era Fábio, o noivo de Sandrinha. Aliás, ele era o motivo da discórdia, pois deveria estar na igreja naquele momento para se casar com Sandrinha. Não apareceu porque tinha fugido com Elisângela.
Mas pobre quando foge é dureza... Tem que passar na casa de todo mundo que conhece pra falar que vai fugir, pegar umas marmitas pra levar de matula na fuga, tem que chorar e falar que vai morrer de saudades e um monte de formalidades menos importantes. O casamento havia sido sabotado há pouco mais de duas horas e eles ainda nem tinham saído da vizinhança de Elisângela.
E o pior aconteceu (e sempre acontece): Sandrinha recebeu uma ligação anônima de uma amiga de Elisângela (que morria de ódio de ver a amiga feliz) e, tendo em mãos o endereço exato da localização dos foragidos, partiu pra fazer justiça. Mas na hora de sentar a mão no cafajeste do Fábio, destinatário do tapa em questão, ele se abaixou, deixando Elisângela na reta. A polícia poderia até colocar Elisângela na lista das vítimas de tapa-perdido, mas a verdade é que Sandrinha deu até um impulso a mais quando viu que ia acertar a sirigaita ao invés do cafajeste.