quinta-feira, 16 de maio de 2013

Dicionário Mediquês-português

Peterson, Christopher Robert. Gíria médica: trambiclínicas, pilantrópicos e embromeds. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. 129 p.
ANEXO IGíria médica: um léxico Tropos, chistes e motes médicos do Rio de Janeiro [entre colchetes: referências às páginas onde os termos aparecem no corpo do texto]Acades Ver Acades vulgaris.
Acades vulgaris [40, 44-45, 65] Apelido para aluno de medicina, usado principalmente por internos e residentes. Usa-se também simplesmente Acades.
bagrinho [40, 44-45, 65-66] Apelido para acadêmico de medicina ou médico recém-formado.
beija-flor S. m. Diz-se de médico que não contribui efetivamente para a vida institucional de um hospital ou clínica, só aparecendo eventualmente para utilizar as instalações, i.é., para bicar.
bicar V. t. d. Ver beija-flor.
Bob Klinefelter e o Clube Mongol Grupo informal de acadêmicos de medicina de uma faculdade pública do Rio de Janeiro nos anos setenta, que se divertia com a criação de chistes relacionados à prática médica. O nome deriva de: 1) síndrome de Klinefelter, "que na forma clássica consiste em testículos pequenos, infertilidade, ginecomastia e variados graus de sub-androgenização, às vezes com leve retardo mental e/ou comportamento anti-social ... como conseqüência do acréscimo de um X adicional ao complemento masculino: 47, XXY" (Harrison, 1981:1797) e 2) mongolismo, termo atualmente em processo de abandono para se referir à síndrome de Down, ou trissomia 21 (ibid.:2012). O grupo Bob Klinefelter tem análogos norte-americanos nos seguintes periódicos, citados por Bennett (1997:265): The Journal of Irreproducible ResultsThe Annals of Improbable Research eThe Journal of Polymorphous Improbability.
bostetra [41] Apelido para o obstetra usado por outras especialidades médicas, a título de provocação.
CTI S. m. Centro de Terapia Intensiva, ou Centro de Triagem para o Inferno.
cuspípara S. f. Grande multípara, com tendência à evolução do trabalho de parto "em avalanche". Parturiente paradigmática para o seguinte provérbio: "O feto nasce com, sem ou apesar do médico". Equivalente ao termo americano "big G", de grand multigravida, ou "multípara" (Konner, 1987:380).
doutorite [47] Síndrome caracterizada pela adoção precoce, inusitada ou exagerada de atitudes ou responsabilidades propriamente médicas pelo acadêmico de medicina, na percepção dos colegas.
DPP [28, 36-37, 52] Descolamento prematuro da placenta (Rezende, 1984:295-300), ou deixa para o próximo plantão.
drenar [27-28, 34-35, 66-67] Originalmente, aplicar um dreno para "manter a saída de líquido de uma cavidade para o exterior..." (Ferreira, 1986:611); no sentido figurado, transferir paciente para outra unidade de saúde ou consultório.
É-bala, vírus [19, 31, 97, 108] Trocadilho usado por um pneumologista pediátrico para se referir ao agente etiológico de uma ferida por projétil de arma de fogo ("bala perdida") na região cervical de uma criança de dezoito meses. Rio de Janeiro, anos 90.
Embromed [19, 70-71, 72, 76, 97, 100] Nome de plano de saúde fictício, do verbo embromar, ou "protelar a resolução de um negócio por meio de embustes" (Cunha, A.G., 1986:291) e o sufixo -med.
empurroterapia [73] Definida pela Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia (Carmo, 1997:6) como "auto-medicação", traz a dupla conotação de "empurrar com a barriga" (ou adiar a solução de um problema) e receber medicação "empurrada" por balconista de farmácia. Ver o termo americano pill-pusher(Spears, 1991:340).
enfermesa [45] Segundo um médico entrevistado, "enfermeira burocrata, de saúde pública, que fica sentada atrás de uma mesa".
enfermosa [45-46] Epíteto machista para enfermeira bonita.
enfernagem [45] Apelido usado eventualmente por médicos para a equipe de enfermagem, a título de provocação. Entretanto, de acordo com uma enfermeira entrevistada, "é difícil saber ao certo quem inferniza quem".
engessar [27, 52, 54] Preparar o paciente de maneira que não reclame (» good patient americano - ver Gordon, 1983) e/ou deixá-lo pronto para determinados trâmites administrativos. Semelhante ao verbo buff na gíria médica americana (Konner, 1987:381).
esculhambina [47] Enzima imaginária invocada para explicar a recuperação inesperada de paciente grave, principalmente paciente pobre. Sugere que a equipe médica tenha ficado "esculhambada", i.é., "desmoralizada", pelo acontecimento. Na gíria médica americana, existe um personagem na sala de emergência chamado Lazarus, aquele que volta das garras da morte, ou seja, paciente agonizante que se recupera inexplicavelmente (Coombs et. al., 1993:993).
estropício [51] Paciente obstétrica pobre, definida por um médico entrevistado como "mulher que não se cuida".
FDA Food and Drug Administration, órgão do governo americano responsável pela certificação e fiscalização de alimentos e medicamentos. Também conhecida como "ForDevelopment Abroad", uma alusão à experimentação com medicamentos em países do Terceiro Mundo antes do seu lançamento no mercado norte-americano.
ganchos de açougue [52] Podem ser solicitados no lugar de afastadores, durante cesariana realizada em paciente obesa.
gato S. m. Laqueadura tubária realizada durante cesariana e cobrada em separado (ver Ferreira, 1986:840, definições 2, 6 e 9). Ver particulinps.
Hell for All by the Year 2000 Variação do lema da Organização Mundial da Saúde, "Health for All by the Year 2000", ou "Saúde para Todos até o Ano 2000". Segundo um entrevistado, ele próprio consultor da OMS em visita ao Brasil, será o resultado caso não haja cumprimento das metas implícitas no lema original.
hospitalismo [52] Termo irônico usado para síndrome que acomete pacientes com múltiplas internações, cuja necessidade é questionada pela equipe de saúde. Semelhante ao termo revolving door patients na gíria médica americana (Galizzi, 1997).
jacaré S. m. Paciente de baixo poder aquisitivo. Ver mulambo, pimba.
JEC, síndrome [52-53, 97-99] "Jesus está chamando", termo usado para paciente terminal ou agonizante.
junta, problema de Termo polissêmico usado por pacientes no Rio de Janeiro, definido como "junta tudo" (problemas de saúde, emocionais, sócio-econômicos etc.), com referência tanto a um possível diagnóstico ósteo-articular e à necessidade do parecer de uma junta médica.
lexiplastia S. f. O uso de neologismos, especialmente trocadilhos, no campo da medicina.
médico de papel [40] Apelido para médico sanitarista, usado por membros de outras especialidades a título de provocação (Castiel, 1995:9).
mulambina S. f. Enzima que protege mulambo contra infecção. Ver esculhambina.
mulambo [34, 51, 53, 59-60, 67-70, 95] Paciente pobre de ambulatório ou hospital público. Escreve-se também molambo. Termo de etimologia banta, do quimbundo, originário de Angola, denotando "farrapo" e conotando "indivíduo fraco, pusilânime, sem firmeza de caráter" (Ferreira, 1986:1149, 1168, 1435).
mulambulatório [67-70, 97, 100] Trocadilho formado pormulambo (ver acima) e ambulatório, ou "departamento hospitalar para atendimento...de enfermos que podem se locomover" (Cunha, A.G., 1986:39).
Não fique em pé se puder ficar sentado/ Não fique sentado se puder ficar deitado / Não fique acordado se puder ficar dormindo Regra número 1 do médico plantonista noturno, para poupar energia.
O anestesista é um médico quase dormindo / tomando conta de um paciente quase acordando [41] Ditado usado principalmente por cirurgiões para provocar os anestesistas.
O clínico sabe tudo, mas não resolve nada/ o cirurgião não sabe nada, mas resolve tudo / o psiquiatra não sabe nada, e não resolve nada [40] Ditado usado principalmente por cirurgiões como provocação.
O infortúnio dos outros é nossa fortuna. Brinde anônimo, por antítese, em cerimônia de formatura médica. Rio de Janeiro, anos 80.
O ortopedista tem que ser forte e burro / mas o obstetra não precisa ser forte [40] Provocação usada contra ortopedistas e obstetras por membros de outras especialidades.
O patologista nunca perde um paciente [40] Truismo médico.
Pafúncio, Plano [19, 71, 97, 100] Plano de saúde (sic) caracterizado por "procedimentos realizados no hospital público, e por serem parentes de funcionário, eles [os pacientes] são atendidos com mais agilidade e rapidez. Aí, nós costumamos dizer, em termos jocosos, que aquele plano de saúde é PafúncioParente de funcionário" (traumatologista, 33 anos). Do personagem Pafúncio, anti-herói da história em quadrinhos americana Living with Father, traduzida no Brasil como Pafúncio e Marocas.
papoterapia [58] Diz-se da prática de conversar com o paciente ou de contar pequenos chistes no intuito de distrair ou acalmá-lo, sobretudo no período pré-operatório.
parece ser [47] Diz-se do "parecer" do médico mais graduado, professor ou especialista, e cuja veracidade é posta em dúvida discretamente por seus subordinados.
particulinps (de particular + INPS, ou Instituto Nacional de Previdência Social) adj. Paciente ou procedimento caracterizado por duplo faturamento. "O paciente é internado para uma cirurgia corretiva, reembolsada legalmente pelo INPS [atual SUS], e realiza-se uma cirurgia estética, particular, pela qual se cobra de novo. Ou então, uma gestante é submetida a uma cesariana, reembolsada pelo INPS, e acrescenta-se uma laqueadura tubária, cobrada por fora."
pilantrópico, hospital [19, 71-72, 76, 97, 100] Oxímoro formado a partir de pilantra, "que gosta de apresentar-se bem, mas não tem recursos para isso; diz-se de pessoa de mau caráter" (Cunha, A.G., 1986:604) e filantrópico, "relativo à filantropia, ou inspirado nela, i.é., com amor à humanidade" (Ferreira, 1986:777). Definido assim por um médico entrevistado: "...no fundo, eles dizem que hospital pilantrópiconão têm finalidade lucrativa, mas acaba tendo, né? Esse ‘sem fins lucrativos’ deles é muito relativo. Tão sempre lá defendendo o dinheiro deles" (anestesista, 54 anos). Ver o chiste médico americano St. Avarice Hospital ("Hospital Santa Avareza") (Bennett, 1987, apud Bennett, 1997:207).
pimba [51, 60, 62, 95] "Pé inchado mulambo bêbadoatropelado", termo usado para paciente pobre, politraumatizado e recolhido em via pública. Originalmente, interjeição que "exprime acontecimento imprevisto e/ou que marca o desfecho de uma ação" (como um corpo que se rebate de um veículo em movimento - pimba!) (Ferreira, 1986:1329).
pitiático [53] Termo derivado de pitiatismo, designação dada à histeria pelo médico francês Babinski, segundo Cunha, A.G., (1986:610); embora anacrônico, sobreviveu como rótulo para pacientes vistos como enrolados ou excessivamente queixosos, ao contrário daqueles que de fato apresentam neurose histérica.
poli-ignorante [42] Apelido dado ao clínico geral por membros das outras especialidades médicas, como provocação; "sabe tudo sobre nada", segundo um ultrassonografista entrevistado.
poliesculhambado [52] Paciente politraumatizado.
poliesculhambose generalizada Politraumatismo.
politransfodido Adj. Usado para paciente que recebeu múltiplas transfusões de sangue ou hemoderivados de origem supostamente duvidosa. Trocadilho derivado de poli, ou "muitos", transfundido e fodido, "que se fodeu", e por metonímia, "desesperado, arruinado" (Ferreira, 1986:792).
PVC, síndrome do "Porra da Velhice Chegando", termo leigo conotando o conjunto de males da meia idade, como presbiopia, menopausa, artralgias leves e outros.
rebocoterapia [77] S. f. Transferência de paciente para nível ou unidade de saúde com maior resolutividade. Do verborebocar: "puxar com corda, cabo, etc. (embarcação ou veículo) a fim de levá-lo a determinado destino, ou auxiliá-lo em manobra de atracação, desatracação, etc." (Ferreira, 1986:1458).
sanitocracia Doença identificada por Garrafa (1994:348) como uma "utopia tecnocrática, segundo a qual alguns especialistas acreditam tudo poder realizar e resolver simplesmente com base em princípios e medidas ditados pela burocracia programática dos gabinetes, pela esterilidade teórica de alguns escritórios universitários que mais funcionam como fábricas de projetos e teses inócuas e pela tecnocracia biológica de alguns laboratórios acadêmicos".
seca-meleca S. m. Cateter nasal de oxigênio.
SUDS S. m. e f. Sistema Unificado e Decentralizado de Saúde (c. 1986). Definido jocosamente por alguns médicos brasileiros como "bolhas de sabão", pela semelhança com o termo sudsem inglês, na suposição de que pudesse se tratar de uma nova marca de desinfetante hospitalar. Como chiste "tópico", tratando de questão passageira (Freud, 1905a:145), perdeu a graça quando a sigla mudou para SUS, Sistema Único de Saúde.
Tome Aerolin, e vote em mim Propaganda eleitoral impressa no receituário de um médico candidato a cargo eletivo. Rio de Janeiro, anos 80.
trambi Ver trambiclínica.
trambiclínica [19, 65-66, 72, 97, 100, 108] Clínica de qualidade duvidosa em termos técnicos e éticos. Trocadilho derivado, através da elisão de lexemas, de trambique, ou "negócio fraudulento" (Ferreira, 1986:1698) e clínica, "lugar de repouso", "prática da medicina" (Cunha, A.G., 1986:189) A etimologia remonta também ao trampolim, figurativamente uma "...coisa, que... impulsiona alguém; degrau" (Ferreira, 1986:1698), conotando portanto a iniciação profissional. Às vezes o termo é encurtado para trambi.
trapeleta [de trapo + papeletaS. f. Papeleta, ou folha de prescrição, para mulambo, ou utilizada no mulambulatório ou na trambiclínica.
trubufu [52] Paciente obstétrica obesa.
umbigo para cima, Novalgina, umbigo para baixo, Baralgin [77] Ditado pseudo-mnemônico usado em serviços de saúde onde costumam faltar medicamentos.

Fonte: portalteses.icict.fiocruz.br

Medicina cubana x automedicação: tendências na saúde pública



O chinelo da minhoca

terça-feira, 14 de maio de 2013

Frase do dia

CONVOCAÇÃO PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES



"NEM PATO E NEM GANSO. 
O BRASIL PRECISA É DO GALO!"


O chinelo da minhoca
Imagem = internet (facebook = Clube Atlético Mineiro - A Melhor Torcida Do Mundo)

PS: #acordafelipao