sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Charges: medicina cubana no Brasil




Charges: A de cima foi retirada do blog rolhasuave.wordpress.com; As duas do meio são do cartunista Alpino (Yahoo Brasil); A última é do cartunista Pelicano, retirada do site www.pelicanocartum.net

Cuanto mas médicos, mejor




- Ô, seu dotô, minhas cacunda tão rachando de dor!
- Engula-te dós aspirinas, cante lo hino de Cuba, e vote en la compañera Dilma. El próximo!
- Ai, dotô cubano, minha cabeça dói, minha pressão tá hipertensa, meu figo tá inchado. Quê que eu faço?
- Faça muchas camiñadas e siga esse regime. 
- Ficô maluco, dotô? Que negócio é esse de comer em um dia e jejuar em dois? 
- És lo regime socialista, mujer! Segue-lo ou muera!!! Próximo!
- Bom dia, seu dotô. Vim fazê um checápis.
- Cuantos cômodos em su casa? 
- Lá em casa são 2 quartos. 
- Cuantos moradores em su casa?
- Só eu e a patroa.
- Entao jo voy a colocar algunos compañeros em su casa, ja que usted esta com mucho espaço. Pegue la cartilla de los exames de check-up e la lista de nombres de sus nuevos compañeros. Próximo!
- Dotô, to cum uma bosta rala danada, uma piriri gangorra que só vendo, é um tal de escorrê as perna afora. E já me falaram pra cumê caroço de jabuticaba mas aí fico toda seca, e fica tudo parecendo cocozinho de bode, durinho igual pão véio.
- Bata en el liquidificador los caroços juntamiente com diez amexas. Hay que endurecer el cocô, pero sin perder la ternura. E no use el papel hijienico, tienes que acostumbrarse com la falta de papel para quando la cumpañera decretar las nuevas acciones socialistas de lo govierno. 
- Dotô, trouxe uma broa de fubá pro sinhô. O sinhô gosta?
- Jo no sei. Tiengo que perguntar a mi superiores (ligando para cuba) - Ramón! Es interesse de lo regime que gañemos broa de fubá? Ahan... Si... No... Quizaz... Si, señor! Viva Fidel! Adios. (voltando-se para a paciente) - Jo agradeço a tu. La broa estará siendo encamiñada para mi govierno, que comerá lá maior parte e enviará el resto de las migallas a mi familla. El próximo...

O chinelo da minhoca
Autoria da charge = Jorge Braga, site www.chargeonline.com.br
*Como estou escrevendo em espanhol? Ligue para 0800-epeçapradilmaimportarprofessoresdeespanhol

sábado, 14 de setembro de 2013

PRECISA-SE...



PRECISA-SE DE MÉDICOS CUBANOS

SALÁRIO = 11.000,00 BRUTO (900,00 LÍQUIDO)
FUNÇÃO = RESOLVER O PROBLEMA DA SAÚDE DO PAÍS
PRÉ-REQUISITOS = I E II GRAUS COMPLETOS + DIPLOMA MÉDICO, DIGO, COMPROVANTE DE TER CURSADO MEDICINA, DIGO, GARANTIA DO GOVERNO CUBANO (OU DE ALGUM PARTIDO DE TRABALHADORES) QUE VOCÊ REALMENTE CURSOU FACULDADE DE MEDICINA, DIGO, BASTA TER AMOR AO PRÓXIMO E DESAPEGO PELAS COISAS MATERIAIS

 FOTOS DOS LOCAIS DE TRABALHO 





INSTALAÇÕES INTERNAS





MATERIAL DISPONÍVEL NAS UNIDADES

CIRURGIA BÁSICA

CIRURGIA AVANÇADA

MEDICAMENTOS




MATERIAL DIDÁTICO DISPONÍVEL NOS CONSULTÓRIOS

CARTILHA BÁSICA DE ATENDIMENTO 

FÓRMULA BÁSICA PARA CALCULAR DOSE DE INSULINA



VANTAGENS DO PROGRAMA 

NÃO PRECISA SABER PORTUGUÊS

NÃO PRECISA SABER MEDICINA

NÃO PRECISA SE PREOCUPAR COM AQUELES CHATOS DO CRM FALANDO O QUE VOCÊ PODE OU NÃO PODE FAZER

SE FIZER ALGO ERRADO O GOVERNO DÁ UM JEITO DE JUSTIFICAR

SE FIZER ALGO MUITO ERRADO O GOVERNO DÁ UM JEITO DE ABAFAR O CASO

SE MATAR ALGUÉM, O GOVERNO PUXA A SUA ORELHA, REDUZ A SUA RAÇÃO DIÁRIA DE FARINHA E TE MANDA DE VOLTA PRA CUBA NA SEGUNDA CLASSE



VENHA FAZER PARTE DESTE TIME CAMPEÃO!!!!!


*OBS: PODE SER EXIGIDA OBEDIÊNCIA TOTAL, ACEITAÇÃO DE CONDIÇÕES INSALUBRES DE TRABALHO, PARTICIPAÇÃO OBRIGATÓRIA EM CAMPANHAS POLÍTICAS PRÓ-GOVERNO, VOTO DE SILÊNCIO EM RELAÇÃO ÀS CONDIÇÕES CONTRATUAIS, ALGUNS MEMBROS DA SUA FAMÍLIA PODERÃO SER OU NÃO USADOS COMO REFÉNS OU MOEDA DE TROCA.



O chinelo da minhoca
fotos = internet


terça-feira, 6 de agosto de 2013

FUTEBOL, SOGRA, E OUTRAS POLÊMICAS


- Bom dia a todos. Convoquei essa entrevista coletiva para esclarecer algumas coisas que estão acontecendo na minha vida. Quero dar fim a alguns boatos a meu respeito e informar a todos os que acompanham a minha trajetória que a partir de amanhã estarei de mudança. Não dá mais pra continuar aqui. Acho até que demorei demais a tomar esta decisão e minha imagem acabou ficando desgastada. Alguma pergunta? Você aí atrás, de boné.
- Juninho, seu filho de 7 anos.
- Prossiga, Juninho.
- O senhor tá indo pra onde?
- Boa pergunta. Vou pra casa da Lurdinha, aquela minha colega de trabalho. Você, de jaqueta rosa.
- Vanessa, sua cunhada. Muito se especulou a respeito dos motivos da sua transferência pra casa da sirigaita. Dizem que você estaria fugindo da responsabilidade de criar dois filhos e de ter que morar com a sogra. Você confirma essa informação.
- Quero aproveitar essa pergunta para deixar bem claro que um dos principais motivos foi a maneira que estavam me tratando aqui. Eu estava sendo obrigado a atuar fora da minha função, o que me impedia de mostrar todo o meu potencial. Todos sabem que eu sou engenheiro formado, mas ninguém nunca me incentivou a explorar esse ramo. Então eu acabei dirigindo táxi, administrando padaria, investindo em lotes vagos, sempre me esforçando para corresponder aos anseios da massa, mas infelizmente nada deu certo. Então achei que era o momento propício de buscar um local onde eu fosse melhor aproveitado. E o pai da Lurdinha tem uma empresa de engenharia, o que me motivou ainda mais a vestir a camisa daquela agremiação. Alguém mais? Você, segurando o rolo de massa.
- Dolores, sua esposa. Eu tenho uma informação privilegiada a respeito do seu desempenho na cama, que sempre foi sofrível, além de ligações de amigas que me alertaram para o fato de você andar por aí com o Carlão, aprontando todas, no horário em que deveria estar na pelada da quarta-feira.
- Essa eu vou deixar o Carlão responder.
- Pois é, como amigo antigo do Alexandre, além de conselheiro e principal incentivador da sua transferência pra casa da Lurdinha, devo dizer que isso é tudo mentira. Ligações de amigas, fotos no instagram, vídeos no youtube, confissões assinadas, impressões digitais, testemunhas idôneas e outros flagrantes não tem peso nenhum quando relacionadas com o que ele está fazendo no seu período de folga. Enquanto ele estiver rendendo satisfatoriamente no trabalho, não podemos condená-lo.
- Jaqueline, sua filha de 16 anos. E por acaso a sua vida vai ser melhor na casa da Lurdinha?
- Ótima pergunta. Eu acho que minha carreira vai dar um salto, já que terei mais liberdade para atuar na minha função de origem e menos cobranças. Aqui é tudo cobrança. Tô cansado de ficar pagando contas. E quero deixar claro que o meu passe agora está muito mais valorizado. Nos últimos anos aprendi a lavar roupa na máquina e fazer batata frita sem espirrar óleo na cozinha toda, o que me qualifica como um dos poucos maridos disponíveis no mercado com essas qualidades. Além disso, chuto o gato pra fora da cozinha com as duas pernas e sou faixa amarela de judô, o que ajuda na defesa do lar. Última pergunta, você aí, de camisa listrada.
- Terezinha, sua sogra. Vem cá que eu vou te encher de pancada, seu safado!
- Como o nível está baixando e a torcida adversária já está invadindo, vou me retirar da entrevista. Obrigado a todos e até a próxima. Meu amigo Carlão vai ficar pra distrair os descontentes enquanto eu saio pela porta dos fundos. Muito obrigado e até mais. 

O chinelo da minhoca
Desenho = no site www.futebolsemfirulas.net

quinta-feira, 11 de julho de 2013

KEEP CALM AND...

Esqueceu o sabre de luz na Millenium Falcon?



Esqueceu de tomar a boca de fumo?



               Esqueceu onde colocou sua bola quadrada?




 Perdeu o show do Paul?




 Cansado de trabalhar?




 Fez algo errado?




 O posto de saúde está lotado? O banco está lotado? O restaurante está lotado?





O chinelo da minhoca
Pôsteres Keep Calm = internet

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Dicionário Mediquês-português

Peterson, Christopher Robert. Gíria médica: trambiclínicas, pilantrópicos e embromeds. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. 129 p.
ANEXO IGíria médica: um léxico Tropos, chistes e motes médicos do Rio de Janeiro [entre colchetes: referências às páginas onde os termos aparecem no corpo do texto]Acades Ver Acades vulgaris.
Acades vulgaris [40, 44-45, 65] Apelido para aluno de medicina, usado principalmente por internos e residentes. Usa-se também simplesmente Acades.
bagrinho [40, 44-45, 65-66] Apelido para acadêmico de medicina ou médico recém-formado.
beija-flor S. m. Diz-se de médico que não contribui efetivamente para a vida institucional de um hospital ou clínica, só aparecendo eventualmente para utilizar as instalações, i.é., para bicar.
bicar V. t. d. Ver beija-flor.
Bob Klinefelter e o Clube Mongol Grupo informal de acadêmicos de medicina de uma faculdade pública do Rio de Janeiro nos anos setenta, que se divertia com a criação de chistes relacionados à prática médica. O nome deriva de: 1) síndrome de Klinefelter, "que na forma clássica consiste em testículos pequenos, infertilidade, ginecomastia e variados graus de sub-androgenização, às vezes com leve retardo mental e/ou comportamento anti-social ... como conseqüência do acréscimo de um X adicional ao complemento masculino: 47, XXY" (Harrison, 1981:1797) e 2) mongolismo, termo atualmente em processo de abandono para se referir à síndrome de Down, ou trissomia 21 (ibid.:2012). O grupo Bob Klinefelter tem análogos norte-americanos nos seguintes periódicos, citados por Bennett (1997:265): The Journal of Irreproducible ResultsThe Annals of Improbable Research eThe Journal of Polymorphous Improbability.
bostetra [41] Apelido para o obstetra usado por outras especialidades médicas, a título de provocação.
CTI S. m. Centro de Terapia Intensiva, ou Centro de Triagem para o Inferno.
cuspípara S. f. Grande multípara, com tendência à evolução do trabalho de parto "em avalanche". Parturiente paradigmática para o seguinte provérbio: "O feto nasce com, sem ou apesar do médico". Equivalente ao termo americano "big G", de grand multigravida, ou "multípara" (Konner, 1987:380).
doutorite [47] Síndrome caracterizada pela adoção precoce, inusitada ou exagerada de atitudes ou responsabilidades propriamente médicas pelo acadêmico de medicina, na percepção dos colegas.
DPP [28, 36-37, 52] Descolamento prematuro da placenta (Rezende, 1984:295-300), ou deixa para o próximo plantão.
drenar [27-28, 34-35, 66-67] Originalmente, aplicar um dreno para "manter a saída de líquido de uma cavidade para o exterior..." (Ferreira, 1986:611); no sentido figurado, transferir paciente para outra unidade de saúde ou consultório.
É-bala, vírus [19, 31, 97, 108] Trocadilho usado por um pneumologista pediátrico para se referir ao agente etiológico de uma ferida por projétil de arma de fogo ("bala perdida") na região cervical de uma criança de dezoito meses. Rio de Janeiro, anos 90.
Embromed [19, 70-71, 72, 76, 97, 100] Nome de plano de saúde fictício, do verbo embromar, ou "protelar a resolução de um negócio por meio de embustes" (Cunha, A.G., 1986:291) e o sufixo -med.
empurroterapia [73] Definida pela Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia (Carmo, 1997:6) como "auto-medicação", traz a dupla conotação de "empurrar com a barriga" (ou adiar a solução de um problema) e receber medicação "empurrada" por balconista de farmácia. Ver o termo americano pill-pusher(Spears, 1991:340).
enfermesa [45] Segundo um médico entrevistado, "enfermeira burocrata, de saúde pública, que fica sentada atrás de uma mesa".
enfermosa [45-46] Epíteto machista para enfermeira bonita.
enfernagem [45] Apelido usado eventualmente por médicos para a equipe de enfermagem, a título de provocação. Entretanto, de acordo com uma enfermeira entrevistada, "é difícil saber ao certo quem inferniza quem".
engessar [27, 52, 54] Preparar o paciente de maneira que não reclame (» good patient americano - ver Gordon, 1983) e/ou deixá-lo pronto para determinados trâmites administrativos. Semelhante ao verbo buff na gíria médica americana (Konner, 1987:381).
esculhambina [47] Enzima imaginária invocada para explicar a recuperação inesperada de paciente grave, principalmente paciente pobre. Sugere que a equipe médica tenha ficado "esculhambada", i.é., "desmoralizada", pelo acontecimento. Na gíria médica americana, existe um personagem na sala de emergência chamado Lazarus, aquele que volta das garras da morte, ou seja, paciente agonizante que se recupera inexplicavelmente (Coombs et. al., 1993:993).
estropício [51] Paciente obstétrica pobre, definida por um médico entrevistado como "mulher que não se cuida".
FDA Food and Drug Administration, órgão do governo americano responsável pela certificação e fiscalização de alimentos e medicamentos. Também conhecida como "ForDevelopment Abroad", uma alusão à experimentação com medicamentos em países do Terceiro Mundo antes do seu lançamento no mercado norte-americano.
ganchos de açougue [52] Podem ser solicitados no lugar de afastadores, durante cesariana realizada em paciente obesa.
gato S. m. Laqueadura tubária realizada durante cesariana e cobrada em separado (ver Ferreira, 1986:840, definições 2, 6 e 9). Ver particulinps.
Hell for All by the Year 2000 Variação do lema da Organização Mundial da Saúde, "Health for All by the Year 2000", ou "Saúde para Todos até o Ano 2000". Segundo um entrevistado, ele próprio consultor da OMS em visita ao Brasil, será o resultado caso não haja cumprimento das metas implícitas no lema original.
hospitalismo [52] Termo irônico usado para síndrome que acomete pacientes com múltiplas internações, cuja necessidade é questionada pela equipe de saúde. Semelhante ao termo revolving door patients na gíria médica americana (Galizzi, 1997).
jacaré S. m. Paciente de baixo poder aquisitivo. Ver mulambo, pimba.
JEC, síndrome [52-53, 97-99] "Jesus está chamando", termo usado para paciente terminal ou agonizante.
junta, problema de Termo polissêmico usado por pacientes no Rio de Janeiro, definido como "junta tudo" (problemas de saúde, emocionais, sócio-econômicos etc.), com referência tanto a um possível diagnóstico ósteo-articular e à necessidade do parecer de uma junta médica.
lexiplastia S. f. O uso de neologismos, especialmente trocadilhos, no campo da medicina.
médico de papel [40] Apelido para médico sanitarista, usado por membros de outras especialidades a título de provocação (Castiel, 1995:9).
mulambina S. f. Enzima que protege mulambo contra infecção. Ver esculhambina.
mulambo [34, 51, 53, 59-60, 67-70, 95] Paciente pobre de ambulatório ou hospital público. Escreve-se também molambo. Termo de etimologia banta, do quimbundo, originário de Angola, denotando "farrapo" e conotando "indivíduo fraco, pusilânime, sem firmeza de caráter" (Ferreira, 1986:1149, 1168, 1435).
mulambulatório [67-70, 97, 100] Trocadilho formado pormulambo (ver acima) e ambulatório, ou "departamento hospitalar para atendimento...de enfermos que podem se locomover" (Cunha, A.G., 1986:39).
Não fique em pé se puder ficar sentado/ Não fique sentado se puder ficar deitado / Não fique acordado se puder ficar dormindo Regra número 1 do médico plantonista noturno, para poupar energia.
O anestesista é um médico quase dormindo / tomando conta de um paciente quase acordando [41] Ditado usado principalmente por cirurgiões para provocar os anestesistas.
O clínico sabe tudo, mas não resolve nada/ o cirurgião não sabe nada, mas resolve tudo / o psiquiatra não sabe nada, e não resolve nada [40] Ditado usado principalmente por cirurgiões como provocação.
O infortúnio dos outros é nossa fortuna. Brinde anônimo, por antítese, em cerimônia de formatura médica. Rio de Janeiro, anos 80.
O ortopedista tem que ser forte e burro / mas o obstetra não precisa ser forte [40] Provocação usada contra ortopedistas e obstetras por membros de outras especialidades.
O patologista nunca perde um paciente [40] Truismo médico.
Pafúncio, Plano [19, 71, 97, 100] Plano de saúde (sic) caracterizado por "procedimentos realizados no hospital público, e por serem parentes de funcionário, eles [os pacientes] são atendidos com mais agilidade e rapidez. Aí, nós costumamos dizer, em termos jocosos, que aquele plano de saúde é PafúncioParente de funcionário" (traumatologista, 33 anos). Do personagem Pafúncio, anti-herói da história em quadrinhos americana Living with Father, traduzida no Brasil como Pafúncio e Marocas.
papoterapia [58] Diz-se da prática de conversar com o paciente ou de contar pequenos chistes no intuito de distrair ou acalmá-lo, sobretudo no período pré-operatório.
parece ser [47] Diz-se do "parecer" do médico mais graduado, professor ou especialista, e cuja veracidade é posta em dúvida discretamente por seus subordinados.
particulinps (de particular + INPS, ou Instituto Nacional de Previdência Social) adj. Paciente ou procedimento caracterizado por duplo faturamento. "O paciente é internado para uma cirurgia corretiva, reembolsada legalmente pelo INPS [atual SUS], e realiza-se uma cirurgia estética, particular, pela qual se cobra de novo. Ou então, uma gestante é submetida a uma cesariana, reembolsada pelo INPS, e acrescenta-se uma laqueadura tubária, cobrada por fora."
pilantrópico, hospital [19, 71-72, 76, 97, 100] Oxímoro formado a partir de pilantra, "que gosta de apresentar-se bem, mas não tem recursos para isso; diz-se de pessoa de mau caráter" (Cunha, A.G., 1986:604) e filantrópico, "relativo à filantropia, ou inspirado nela, i.é., com amor à humanidade" (Ferreira, 1986:777). Definido assim por um médico entrevistado: "...no fundo, eles dizem que hospital pilantrópiconão têm finalidade lucrativa, mas acaba tendo, né? Esse ‘sem fins lucrativos’ deles é muito relativo. Tão sempre lá defendendo o dinheiro deles" (anestesista, 54 anos). Ver o chiste médico americano St. Avarice Hospital ("Hospital Santa Avareza") (Bennett, 1987, apud Bennett, 1997:207).
pimba [51, 60, 62, 95] "Pé inchado mulambo bêbadoatropelado", termo usado para paciente pobre, politraumatizado e recolhido em via pública. Originalmente, interjeição que "exprime acontecimento imprevisto e/ou que marca o desfecho de uma ação" (como um corpo que se rebate de um veículo em movimento - pimba!) (Ferreira, 1986:1329).
pitiático [53] Termo derivado de pitiatismo, designação dada à histeria pelo médico francês Babinski, segundo Cunha, A.G., (1986:610); embora anacrônico, sobreviveu como rótulo para pacientes vistos como enrolados ou excessivamente queixosos, ao contrário daqueles que de fato apresentam neurose histérica.
poli-ignorante [42] Apelido dado ao clínico geral por membros das outras especialidades médicas, como provocação; "sabe tudo sobre nada", segundo um ultrassonografista entrevistado.
poliesculhambado [52] Paciente politraumatizado.
poliesculhambose generalizada Politraumatismo.
politransfodido Adj. Usado para paciente que recebeu múltiplas transfusões de sangue ou hemoderivados de origem supostamente duvidosa. Trocadilho derivado de poli, ou "muitos", transfundido e fodido, "que se fodeu", e por metonímia, "desesperado, arruinado" (Ferreira, 1986:792).
PVC, síndrome do "Porra da Velhice Chegando", termo leigo conotando o conjunto de males da meia idade, como presbiopia, menopausa, artralgias leves e outros.
rebocoterapia [77] S. f. Transferência de paciente para nível ou unidade de saúde com maior resolutividade. Do verborebocar: "puxar com corda, cabo, etc. (embarcação ou veículo) a fim de levá-lo a determinado destino, ou auxiliá-lo em manobra de atracação, desatracação, etc." (Ferreira, 1986:1458).
sanitocracia Doença identificada por Garrafa (1994:348) como uma "utopia tecnocrática, segundo a qual alguns especialistas acreditam tudo poder realizar e resolver simplesmente com base em princípios e medidas ditados pela burocracia programática dos gabinetes, pela esterilidade teórica de alguns escritórios universitários que mais funcionam como fábricas de projetos e teses inócuas e pela tecnocracia biológica de alguns laboratórios acadêmicos".
seca-meleca S. m. Cateter nasal de oxigênio.
SUDS S. m. e f. Sistema Unificado e Decentralizado de Saúde (c. 1986). Definido jocosamente por alguns médicos brasileiros como "bolhas de sabão", pela semelhança com o termo sudsem inglês, na suposição de que pudesse se tratar de uma nova marca de desinfetante hospitalar. Como chiste "tópico", tratando de questão passageira (Freud, 1905a:145), perdeu a graça quando a sigla mudou para SUS, Sistema Único de Saúde.
Tome Aerolin, e vote em mim Propaganda eleitoral impressa no receituário de um médico candidato a cargo eletivo. Rio de Janeiro, anos 80.
trambi Ver trambiclínica.
trambiclínica [19, 65-66, 72, 97, 100, 108] Clínica de qualidade duvidosa em termos técnicos e éticos. Trocadilho derivado, através da elisão de lexemas, de trambique, ou "negócio fraudulento" (Ferreira, 1986:1698) e clínica, "lugar de repouso", "prática da medicina" (Cunha, A.G., 1986:189) A etimologia remonta também ao trampolim, figurativamente uma "...coisa, que... impulsiona alguém; degrau" (Ferreira, 1986:1698), conotando portanto a iniciação profissional. Às vezes o termo é encurtado para trambi.
trapeleta [de trapo + papeletaS. f. Papeleta, ou folha de prescrição, para mulambo, ou utilizada no mulambulatório ou na trambiclínica.
trubufu [52] Paciente obstétrica obesa.
umbigo para cima, Novalgina, umbigo para baixo, Baralgin [77] Ditado pseudo-mnemônico usado em serviços de saúde onde costumam faltar medicamentos.

Fonte: portalteses.icict.fiocruz.br

terça-feira, 30 de abril de 2013

Quando os EUA entraram na guerra contra a Dengue...

Pôster apresentado no XXI CNACDCOADM (Congresso Norte Americano de Combate à Dengue, Caxumba e Outras Armas de Destruição em Massa), 2006:
Autoria: O chinelo da minhoca (contribuição da Kênia que deu a ideia original)
Imagem: Internet

terça-feira, 16 de abril de 2013

RODÍZIO



Eu estava andando pela rua. Já havia passado do meio dia e minha barriga implorava por comida. Ao dobrar uma esquina, me deparei com uma churrascaria. Meus olhos fitaram o anúncio “O melhor rodízio da cidade”. Rodízio! Sem pensar duas vezes, entrei no restaurante. Enquanto procurava uma mesa, comecei a reparar nas pessoas. Todas rindo, conversando, comendo e bebendo. Fiquei impressionado. Como é que podiam ser tão inocentes? Será que não percebiam o que estava acontecendo? Pobres criaturas. Não entendem o que é o rodízio. O verdadeiro rodízio... O rodízio, na verdade, é uma guerra! Uma batalha sangrenta que é travada entre os clientes e os funcionários da churrascaria! Os garçons são soldados sob o comando do gerente, que pode ser considerado o general. A estratégia do inimigo é bem simples: os soldados empurram carne atrás de carne, ao mesmo tempo em que oferecem bebidas insistentemente. O cliente incauto cai nessa armadilha gastronômica e se satisfaz rapidamente, contribuindo para o lucro do exército adversário. Isso sem contar os infelizes que levam mulheres e crianças para o rodízio. O inimigo não perdoa. E é exatamente por isso que eu digo que rodízio é coisa para macho! E o macho tem que ter a seguinte ideia na cabeça: só se entra em um rodízio quando você tem a certeza de que vencerá a batalha, ou seja, dará prejuízo ao estabelecimento. Eu sou o tipo de cara que segue essa máxima. Sentei-me na mesa mais próxima à cozinha. Assim poderia ficar de olho nas manobras inimigas. O gerente veio ao meu encontro e indagou se eu ia querer o rodízio. Ao ouvir minha resposta afirmativa, seus olhos brilharam perversamente e um sorriso cínico tomou conta de seus lábios. Miserável! Mal sabia ele que estava lidando com um profissional. Um veterano de grandes confrontos... Ele deu o comando e seus soldados vieram ao meu encontro. Com toda a minha experiência, sabia que deveria aceitar apenas as carnes nobres. Nada de exaurir minhas forças com carnes duras, de segunda. E o tiro inicial foi dado. Daí para frente foi uma mistura de alcatra, sal grosso, filet mignon, alho, picanha, sangue, suor e saliva. O inimigo atacava por todos os lados e eu me defendia corajosamente. E o tempo foi passando... Após algumas horas de conflito, o inimigo reuniu todos os homens e partiu para um ataque em massa. Esse seria devastador, não fosse o meu oportuno recuo para o toalete. Fiquei entrincheirado até recobrar a minha auto-confiança. Depois de uma breve digestão, saí e comecei o contra ataque. Fui impiedoso. Os soldados se desesperavam ao mesmo tempo em que o general ligava para o açougue e pedia mais munição. Já dava para sentir o bem temperado gostinho da vitória. Depois de alguns minutos, o exército inimigo se reuniu na cozinha. Com certeza estavam tentando achar uma saída. Mas não havia saída! O gerente veio até minha mesa e perguntou, com a voz trêmula, se eu estava sendo bem servido. Se estava satisfeito. Há! Era a rendição! O fato do gerente vir falar comigo significava que eles, após horas de tentativas frustradas, haviam chegado à conclusão que não tinha nada que eles pudessem fazer para controlar a minha fúria animal. Era o pedido de perdão. Como um bando de crianças assustadas, eles clamavam por minha partida. Estavam onde eu queria: em minhas mãos... Mas não iam se livrar de mim assim tão facilmente. Apesar de estar completamente empanturrado, eu resolvi que não deveria aceitar o armistício. Não ainda. Afinal de contas, eu queria que aquela carnificina servisse de exemplo para as gerações futuras. Um marco na história da sociedade carnívora! Um garoto saiu da cozinha carregando coraçõezinhos. Corações... Era isso! Eles seriam o símbolo da minha vitória. Minha sede de sangue seria saciada pelos corações dos inimigos! Que metáfora fantástica! Olhei para o garoto. Por um breve instante fiquei com pena dele. Era apenas mais uma vítima inocente desse mundo insano em que vivemos. Humanidade torturada ardia em meus olhos. Não! Percebi que estava me desviando do meu objetivo. Na guerra não existe glória para os fracos e emotivos. Chamei o rapaz. Nada. Fingiu que não me escutou. Chamei novamente, dessa vez com mais vigor. Ele não teve escolha. Aproximou-se de mim. Dava para ver o medo em seus olhos. Eu não hesitei. Olhei bem no fundo da amargurada alma daquele rapaz, apontei para o meu prato vazio e exclamei em tom de triunfo: Limpa o espeto! Ele obedeceu e voltou correndo para a cozinha, talvez com medo de ser a sobremesa. Devorei tudo e, por fim, pedi a conta. Minha missão havia sido completada com êxito. Na hora de pagar, o único sorriso cínico era o meu, pois o gerente não conseguia sorrir e soluçar de desespero ao mesmo tempo. Lancei um olhar frio para os garçons e fui em direção à porta em passos lentos e meio descoordenados, pois minhas pernas sentiam o peso da contenda. Dei uma última olhada para trás, me prevenindo de um eventual ataque pelas costas, e alcancei a saída. Dobrei a esquina e ainda pude ouvir um último soluço do gerente. 

Autoria: O chinelo da minhoca
Imagem: internet

sexta-feira, 29 de março de 2013

Campanhas educativas


1. Cuidados básicos evitam aborrecimentos futuros!!!


2. Cinto de segurança salva vidas (essa é séria e muito legal!)


3. Se beber, evite praticar nado borboleta na enxurrada!


O chinelo da minhoca
Vídeos retirados do Youtube

segunda-feira, 4 de março de 2013

O HERÓI E O REINO DE FENÍCIA



Após várias semanas de cavalgada, o herói finalmente encontrou o isolado reino de Fenícia. Era um reino muito distante e pouco conhecido. As histórias diziam que muitos heróis desapareceram ao buscar aventuras naquela região. Foram e nunca voltaram. O mistério do sumiço dos heróis servia apenas para atrair mais heróis, curiosos e sedentos por batalhas e atos de bravura.
            - Bom dia, cavaleiro – disse um homem de armadura que guardava o portão de entrada do reino.
            - Dia – respondeu o herói.
            - Quer entrar no reino? – perguntou o guarda.
            - Quero – respondeu novamente o herói.
            - Então aguarde um instante – disse o homem, dando as costas para o cavaleiro e entrando em um pequeno quarto ao lado do portão.
            O cavaleiro ficou aguardando o retorno do homem. O guarda voltou carregando uma prancheta e alguns papéis.
            - Deixe-me ver – falou o homem. – Qual o seu nome?
            - Sir Roderick, “o Bravo” – respondeu o cavaleiro.
            O homem fez algumas anotações na prancheta.
            - Planeja ficar muito tempo no reino? – continuou o guarda.
            - Não sei dizer ao certo – disse o herói. – O tempo que for preciso para esclarecer alguns fatos.
- Qual o motivo principal da sua viagem. Turismo ou trabalho?
- Pode colocar trabalho – disse o cavaleiro, já um pouco impaciente. – Essas perguntas são mesmo necessárias? Estou com um pouco de pressa.
            - Está trazendo algum animal silvestre ou planta? – persistiu o guarda, ignorando a pergunta do cavaleiro.
            - Estou trazendo apenas o meu cavalo, minha espada e minha vontade de partir ao meio uma pessoa que está começando a me irritar! – esbravejou o herói.
            - O senhor está me ameaçando? – questionou o guarda.
            - Talvez. Por quê? Algum problema? Vai encarar? – provocou o herói, já colocando a mão sobre a bainha da espada.
            - O senhor acaba de ganhar dez pontos – disse o homem, entregando uma moeda de ouro para o cavaleiro. – Pode entrar no reino agora.
            O herói não entendeu nada, mas nem quis perguntar. Estava cansado de tanta conversa e ansioso para entrar no reino. Enquanto aguardava a abertura dos portões, deu uma mordida na moeda para confirmar o seu valor. Os portões foram abertos e o cavaleiro finalmente entrou. Andou pouco mais que cinco metros e foi abordado por um grupo de soldados fortemente armados com arcos, flechas, espadas e tacapes de aço.
            - Quantos pontos o senhor ganhou? – perguntou o líder do grupo.
            - Dez – respondeu o herói, mostrando a moeda de ouro que agora estava com pequenas marcas produzidas pela dentada.
            - Prendam-no – o líder ordenou aos seus subordinados.
            O cavaleiro saltou do seu cavalo, desembainhou a espada e lutou ferozmente contra os soldados. Mas eles eram muitos. O herói foi rendido, amarrado e levado até o xerife.
            - Quem é este homem? – perguntou o xerife.
            - É um cavaleiro que acabou de chegar, senhor – respondeu o líder dos soldados.
- Ele ganhou quantos pontos no portão? – perguntou o xerife.
            - Dez pontos. 
            - Mordeu a moeda?
            - Com força.
            - E ele resistiu à prisão? – continuou o xerife.
            - Sim.
            O xerife se aproximou do destemido cavaleiro e o examinou com os olhos por alguns instantes.
            - Deixe-me esclarecer algumas coisas para o senhor – começou a dizer o xerife. – O reino de Fenícia é um lugar muito próspero. Todas as pessoas daqui são felizes, honestas e ricas. E toda esta harmonia só é possível porque nós fiscalizamos com muito rigor as pessoas que visitam o nosso reino. Assim, impedimos a entrada de certos elementos indesejáveis.
- Isso é uma afronta! – exclamou o valente cavaleiro. – Estão duvidando da minha integridade?
- Ainda estamos investigando. Mas até agora as coisas não estão nada boas para o senhor. Deixe-me revisar os fatos. Nosso porteiro é encarregado de fazer uma série de oitenta perguntas a todos os visitantes. A resposta das perguntas não importa. Apenas queremos saber se o visitante possui a virtude da paciência, qualidade muito apreciada em nosso reino. Quando alguém não tem paciência para responder a todas as perguntas, o porteiro entrega uma moeda de ouro ao visitante e lhe atribui uma pontuação de zero a dez, na escala de impaciência. Se receber nota dez, o visitante deverá ser guiado pelos guardas até o nosso centro de visitantes, onde será submetido a um questionário ainda maior. Isso lhe ensinará a ter mais paciência no futuro.
- Mas ninguém me guiou para lugar algum – defendeu-se o herói. – Seus guardas me atacaram sem motivo.
- Ainda não terminei a minha explanação – continuou o xerife. – Aqui em Fenícia nós admiramos as pessoas que não são gananciosas ou desconfiadas. E o senhor aceitou uma moeda de ouro sem ao menos questionar o motivo de ter recebido tão valioso presente. Isso demonstra que é uma pessoa gananciosa. E ainda mordeu a moeda para ver se era de ouro puro mesmo. Ou seja, também demonstrou ser uma pessoa desconfiada. Nossos guardas são orientados a prender de imediato as pessoas que são impacientes, gananciosas e desconfiadas. E os nossos presos são imediatamente matriculados nas melhores escolas de reabilitação, onde participarão de várias palestras e serão instruídos e orientados pelos melhores professores do reino.
- Ridículo! – protestou sir Roderick. – Suas conclusões sobre a personalidade das pessoas são muito superficiais e precipitadas. E eu me recuso a voltar para a escola.
- Mas o senhor não irá para a escola. Aqui em Fenícia nós repudiamos as ações violentas. E o senhor reagiu à prisão com violência.
- Apenas me defendi. Qual é o problema?
- Nossos cientistas acreditam que as pessoas impacientes, gananciosas, desconfiadas e violentas são as mais perigosas para o nosso reino, pois podem ser ladrões. E todos os ladrões devem ser trancafiados na masmorra. 
- Não sou ladrão! – berrou o cavaleiro. – Sou um herói!
- Oh! – exclamaram os soldados.
- Nesse caso, só resta uma coisa a fazer...
            O cavaleiro não sabia, mas no reino de Fenícia a palavra herói significava assassino. E os assassinos não poderiam ser trancafiados nas masmorras. O pobre cavaleiro foi atirado no fosso das feras, onde jaziam os restos mortais de todos os outros heróis. Vários soldados ficaram de prontidão ao lado do fosso, para a eventualidade do herói matar as feras e escapar. Em Fenícia, os homens que matam feras são mais perigosos que os assassinos, e devem ser queimados na fogueira.  

Autoria = O chinelo da minhoca
Foto = cena do filme "Monty Python and the Holy Grail"

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

SOBRE ESCOCESES E DUENDES




O velho escocês era muito conhecido naquela pequena cidade. Sua figura chamava a atenção. Apesar da idade avançada, era um homem forte e media quase dois metros de altura. Seus cabelos eram tão ruivos que lembravam um arbusto em chamas. Seus olhos azuis reluziam, por mais que as marcas da idade teimassem em tentar escondê-los entre as inúmeras rugas de seu rosto. Porém, a beleza não era exatamente o seu forte. Vivia explicando para os amigos que o rubor escarlate de suas bochechas e o nariz robusto e hipertrofiado eram a marca registrada de seu clã. O velho insistia em culpar um certo feiticeiro que, numa noite fria das ermas encostas das highlands, lançou uma maldição sobre seu tataravô, que à partir de então passou a carregar em sua feição a mais bruta das feiuras. E essa sina seria passada de geração em geração até que fosse desfeita por uma façanha heroica. Um ato de puro desprendimento e bravura. O dermatologista do velho insistia em dizer que não se tratava de maldição, e sim de uma doença chamada rosácea, cujo tratamento envolveria a suspensão das noites de bebedeira. O velho quase asfixiou o pobre médico, que mais tarde ficaria sabendo que na Escócia costumavam apedrejar bruxos, ingleses e dermatologistas defensores da abstinência alcoólica.
A bebida era tudo na vida daquele velho. Desde a mais tenra juventude aprendeu a tratar a cerveja e o uísque como membros da família e base da pirâmide alimentar. Os torneios de levantamento de caneco e esvaziamento de barril foram as suas principais fontes de renda por vários anos. Foi dono de alambiques, cultivou plantações de malte, gerenciou bares e, durante alguns meses em que visitou a Irlanda, trabalhou como degustador de coquetéis Molotov para o IRA.  Hoje, aposentado e morando no interior do Paraná, tudo que o interessava eram as noites de boemia, onde deleitava os presentes com seu bom humor e histórias de bravura do povo escocês.
Porém, certa vez, sonhou com uma fada que dizia conhecer a maneira de quebrar a maldição da família.