O galo é campeão da Copa do Brasil!
E tem gente que vai dizer que demorou... E eu respondo:“Good things come to those who wait” ou seja, tenha paciência, que um dia a recompensa chega. E chegou mesmo. E como não poderia deixar de ser, veio com um pouquinho de sofrimento. Tudo bem, digamos que veio com uma quantidade moderada de sofrimento. Tá bom, eu admito, foi sofrimento pra caramba! Milhões de sofredores levantando as mãos aos céus e indagando “Por quê que tem que ser tão sofrido, meu Deus do céu?”, e o Mário Henrique Caixa se indagando onde foi que ele já ouviu essa frase antes. O sofrimento dos torcedores do galo já é tão conhecido, tão emblemático, tão sofrido, que já está sendo incluído em questionários de risco cirúrgico, sendo o paciente classificado como ASA 2 só por ser atleticano. O governo já estuda uma forma de criar uma “Bolsa Galo”, cotas para atleticanos em universidades, adicional de insalubridade para funcionários que torcem por esse clube tão injustiçado. E diante de tanto sofrimento e tanta injustiça, o destino resolveu interceder e criar um roteiro épico, com muito suspense, emoção, lágrimas e uma pitadinha de vingança. Tudo bem, quantidades moderadas de vingança. Tá bom, tá bom, com muita vingança! Foi uma vingança sangrenta daquelas que você assistia na tevê no sábado à noite, escondido debaixo da coberta, deixando só o rabinho de um olho de fora. E não poderia ser diferente, já que esse time do galo aprendeu a jogar no modo HARD do FIFA SOCCER. Um time que até bem pouco tempo contava com ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho, que foi embora e deixou o caminhão do galo pro Levir tocar. Só esqueceu de mencionar que o caminhão estava com as pastilhas de freio gastas, os pneus carecas e sem buzina. E nosso técnico não quis nem saber de fazer revisão: mandou todo o time pra dentro, encheu o tanque e partiu rumo à inédita conquista, cortando caminho pelo anel rodoviário, na altura do bairro Betânia. Não deu outra. A carreta bitrem sem freio do galo, descendo com tudo, provocando uma desgovernada sequência atropelativa, foi passando por cima de porcos, gambás, urubus e de uma vaidosa raposa, esta última atropelada na ida e na volta. E tudo isso é culpa da torcida do galo. Uma torcida que acredita em reviravoltas épicas seguidas, que acredita que o Leonardo Silva tem 2 metros e meio de altura, que acredita que o Jemerson é o Beckenbauer reencarnado (apesar do cara nem ter morrido ainda). Tamanha sandice uma hora ou outra teria que ser transmitida para os jogadores, que pegaram a febre do galo doido. Um dos mais afetados foi Luan. Praticamente o paciente zero da febre do galo doido, esse moleque é frequentemente visto dando voadoras na trave, jogando pedra em aviões e fazendo gols de cabelo (ninguém me convence que ele encostou o couro cabeludo naquela bola). Passou a febre para o amigo Dátolo, que agora sai por aí sem fazer a barba, usando um penteado estilo desenho japonês e falando que se chama Jesus. E a loucura ainda envolve dirigentes que dormem abraçados com troféu, goleiros que defendem pênalti com os pés, laterais que batem escanteio com as mãos, atacantes que dão tiros imaginários com os dedos indicadores e volantes que entram de carrinho em qualquer coisa, pessoa ou veículo que ouse adentrar seus domínios. Esse time maluco do galo não respeita tabus, tradições, retrospectivas, apostas, palpites. Não é freguês de ninguém, não fica fazendo dancinha antes da hora e nem fica fazendo estardalhaço igual palhaço achando que está classificadaço. Esse galo leva desaforo pra casa, mas é só pra meter goleada e mostrar ao desaforado quem é que manda no nosso poleiro. O time azulado até tentou imitar a loucura, cantando que também são loucos e levando dois gols no primeiro jogo pra tentar um resultado histórico no segundo. Andou conseguindo umas vitórias sobre times de outros estados e achou que era a última bolacha Maria do pacote. Andou achando que era invencível, mas se esqueceu que para toda Bestia Negra existe uma cura. Para todo mal existe o bem. Para toda estrela da morte existe um Luke Skywalker. Para todo Barcelona das Américas existe um Clube Atlético Mineiro. Repentinamente, percebendo enfim o tamanho da traulitada que estava prestes a levar, o cruzeirense passou a sofrer de uma estranha doença caracterizada por um estado constante de delirium tremens, onde a tremedeira vem acompanhada por alucinações. Para qualquer lado que olhassem, enxergavam gozações, até mesmo em painéis eletrônicos usados para orientar o trânsito. Estranha a sensação de quem foi ao Mineirão na final. Primeiro, porque ele estava meio vazio (alguns diriam que meio cheio). Segundo, porque normalmente as arquibancadas tremiam sob os pulos dos torcedores, mas dessa vez tremiam por outro motivo. Torcida e jogadores do cruzeiro em sintonia, numa exibição de parkinsonismo coletivo pra neurologista nenhum botar defeito. E a equipe deles até tentou se camuflar, vestindo uma camisa branca no melhor estilo Santos Futebol Clube, tentando confundir o galão. Parece que só conseguiram enganar o Pelé, que foi internado às pressas ao pensar que seu clube do coração tinha contratado o Dagoberto. E o galão da massa não quis nem saber e mais uma vez levantou uma taça em seu salão de festas, e ainda aproveitou o famigerado "novembro azul" e já forneceu um check-up grátis pra turminha azulada, que estava devendo uma consulta desde aquele dia em que deu sumiço nos sabugos de milho no Independência. Mais uma vez vingador. Mais uma vez vingados. O cruzeiro mal entrou em campo. O galo entrou pra história.
O chinelo da minhoca
*foto: espn.uol.com.br
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