sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Feliz dia do inventor - uma homenagem do Chinelo

INVENTA OUTRA

            Era um dia ensolarado de primavera, quando teve início um encontro improvável entre vários nomes ilustres da nossa ciência.
- Bom dia, senhor Einstein. Como está se sentindo nesta linda manhã? – perguntou Isaac Newton.
- Não tão excitado quanto o átomo de Bohr, posso lhe garantir, senhor Newton – respondeu Albert Einstein.
- Acordou áspero, não é mesmo? Ninguém mandou ficar entretido com os teoremas de Euclides, se é que você me entende.
- “O homem só se curva diante dos obstáculos se existe um meio de passar por baixo deles”.
- Muito bem colocado. Mais açúcar no seu chá?
- Uma colher.
- Pena que madame Marie Curie não compareceu. Será que não ouviu sobre o nosso encontro?
- Talvez tenha tido problemas com o rádio – disse Einstein, sorrindo.
- Sagaz comentário. Não sabia que era afeiçoado aos trocadilhos – respondeu Newton, espantado. 
- Antes do desjejum eu costumo ser um tanto quanto eloquente. Depois me torno compulsivo e por fim vou dormir com meus devaneios.
- Seu estado de humor é bem relativo.
- Um homem regido por tantas leis não deveria se render ao sarcasmo.
- Touché, velho amigo.
Um terceiro cientista se aproximou dos dois físicos, tornando a discussão ainda mais inédita.
- Que imagem incomum. Duas raposas à mesa e não vejo sequer uma galinha – brincou o inventor Thomas Edison.
- Junte-se a nós, Edison. Estamos praticando a mais nobre arte do desdobramento linguístico prosaico coletivo – disse Einstein.
- Estão jogando conversa fora.
- Exatamente.
- Não puderam inventar nada melhor? – provocou o inventor.
- Já chegou afiado, não é? Cuidado rapaz. Na Arábia os gênios eram aprisionados em lâmpadas – lembrou Einstein.
- Dentro da minha pelo menos teria luz – respondeu Edison, dando uma piscadinha furtiva para Isaac Newton.
- Grande resposta! – vibrou Newton. – Deixou nosso companheiro sem fala. Oh, Deus! Como esperei para ver meu amigo Einstein com esta expressão de derrota no rosto. O que aconteceu, meu caro? O gato comeu sua língua? Ninguém mandou ficar mostrando ela para os outros.
- Há! Brilhante comentário, amigo Newton – continuou Edison.
- Não mais brilhante que sua lâmpada, meu caro.
- Pare. Você está impossível hoje. Não está, prezado Einstein?
- Impossível é suportar tamanha rasgação de seda – resmungou o físico, com cara de emburrado. 
- Ficou bravinho. Não devíamos fazer chacota com nosso amigo. Ele poderia nos jogar uma bomba – provocou Newton.

- Ai, que medo! – disse Edison, sentando-se à mesa.
- Não sejam tolos – disse Einstein. – Minha teoria sempre foi pacifista. Apesar de ter demonstrado um potencial que amadores como vocês não poderiam prever.
- Amadores? Esta sua petulância visa retirar o mérito de nossas descobertas? Realmente se considera melhor que nós? – protestou Newton.
- Estou apenas divagando. O que seria do mundo se não fosse o medo de uma explosão nuclear? Acho que de certo modo ajudei a criar um inimigo em comum para promover a união das pessoas.
- E o que seria da humanidade sem minhas leis?
- E sem meus inventos?
- Um pouco menos chata, talvez.
- Absurdo! – exclamaram os dois cientistas, ofendidos.
E enquanto discutiam, mais um cientista se aproximou para fazer parte daquela incrível reunião matinal
- Tagarelando como senhoras a esta hora da manhã? Os gênios são realmente impressionantes! – exclamou Alexander Graham Bell.
- Senhor Bell. Recebeu nossa carta?
- Chegou um pouco em cima da hora, mas consegui desmarcar meus compromissos. É uma pena que não tenham um telefone para facilitar a vida de vocês. Desculpem se o lá de casa é único, assim como o inventor dele.
- É impressão minha ou hoje estamos mais convencidos que de costume? – perguntou Edison.
- Nós podemos nos dar ao luxo – respondeu Einstein.
- Já que conseguimos reunir nosso eclético grupo, que tal celebrarmos o momento com uma bebidinha fermentada? – convidou Newton.
- Podemos realizar um evento festivo – sugeriu Edison. 
- Grande ideia. Você é realmente uma pessoa de inteligência ímpar, meu caro Edison.
- Um gênio.
- Façamos um brinde. Aos cientistas.
- Aos gênios.
- Aos inventores.
- Aos sumérios.
- Eles inventaram alguma coisa? – perguntou Newton.
- A cerveja – respondeu Bell.
- Aos sumérios, então.
- Grandes sumérios.
- Que sabedoria. Verdadeiros inventores.
Novamente, um cientista inesperado surge para fazer uma pequena participação especial nesta história.
- Com licença, Senhores. Tenho aqui um telegrama para o senhor Bell – informa o senhor Samuel Morse.
- Quer se juntar a nós, senhor Morse? – perguntou Einstein.
- Dahdit ditdah dahdahdah! – respondeu Morse, indo embora.
- Acudam! Ele está tendo um acidente vascular encefálico! – gritou Edison.
- Não. Está apenas se exibindo. Falou “não” em código – explicou Einstein.
- Ele se acha o máximo desde que inventou esse código idiota – resmungou Edison, olhando com raiva para o homem que se afastava.
- O que diz o telegrama, Edison? Estou sem meus óculos – disse Bell, entregando o papel para o inventor.
- Deve ser a conta do telefone dele – ironizou Einstein.
- Ou a polícia descobriu que era ele que ligava passando trotes – acrescentou Newton, dando risadas. 
- É um telegrama de sir Darwin – disse Edison. – Está perguntando se desta vez o deixaremos participar das competições.
- Responda que ele sempre será bem vindo para nos representar nas competições de xadrez, mas que nunca mais vai ser goleiro no nosso time de futebol – falou Bell. – Diga simplesmente que ele não é o indivíduo melhor adaptado para esta função. Ele vai entender o recado.
- Isso mesmo. Não fomos nós que o excluímos do time, foi a seleção natural – gargalhou Einstein.
Mais uma pessoa se aproximou daquele eclético grupo, mas agora não se tratava de um cientista, e sim de uma esposa enfurecida.
- Muito bonito! – gritou a mulher. – Falou que ia passar o dia dando palestras sobre relatividade e está aí com seus amigos esquisitos.
- Calma, querida – disse Einstein, percebendo que estava em apuros. – Eu posso explicar. Tudo começou com o Big Bang...
- Cala a boca e vem logo pra casa! – Berrou a esposa. – Bando de cientistas desocupados e beberrões. Suas esposas ficarão sabendo disso.
- Sinto muito, amigos. Teremos que cancelar a reunião. Depois nos falamos – disse Einstein, saindo correndo atrás da esposa.
- Que isso nos sirva de lição. Para toda ação existe uma reação igual e...
- Cale-se, Newton! Este não é um bom momento para aulas de física. Minha esposa também não sabia que eu estaria com vocês. E agora? Ficarei semanas dormindo no sofá – choramingou Edison.
- Você não é o grande inventor? – perguntou Bell. – Então inventa uma desculpa que preste pra sair desta enrascada.
- Nossa. Tenho a impressão de que ela vai me dizer exatamente estas palavras...

O Chinelo da Minhoca

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