terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Brasil que não aprende.

Outro dia, assistindo à tevê, vi um programa que mostrava vários marmanjos sendo massacrados por crianças. Não. Não era um filme de terror. Também não era o jornal das oito. Era um programa que mostrava o quanto as crianças da quinta série sabiam mais que os adultos. E isso me deixou pensativo. Lembrei de já ter sido uma criança da quinta série. Eu realmente era muito esperto naquela época. Sabia tudo. Realmente tudo. Mas se esse conhecimento todo tinha realmente alguma utilidade, por que não me lembro de nada? Por que aqueles adultos não se lembram, já que também foram alunos da quinta série algum dia? O conhecimento adquirido na minha quinta série e nas séries subseqüentes foi muito importante para que eu passasse no vestibular, mas não ajudou muito depois disso. Agora que passou o desafio do vestibular, o que eu faço com as quelíceras e os pedipalpos dos aracnídeos? Com a auxina, a giberelina e a citocinina? Será que as zônulas de adesão, oclusão e os desmossomos poderão me ajudar algum dia? O que faço agora com os estudos de obras literárias que li e decorei para os exames? Será que o meu cabeleireiro vai puxar assunto sobre isso? Talvez o taxista me pergunte se eu gostei daquela frase do Guimarães Rosa ao invés de falar sobre o tempo. Como será que o número de Avogrado e a lei de Hess me farão entender a política do nosso país? Na certa, o Ancylostoma duodenale tem uma resposta para tudo isso. Ou será que devo perguntar para o Trypanosoma cruzi, ou para o seu vetor, o Triatoma infestans? Estariam as respostas nos movimentos orogenéticos, nos diastrofismos, nos intemperismos? A solução da violência e da miséria dependeriam do estudo detalhado do movimento ludita? Do Golpe do Termidor? Com quantas guerras de Canudos se faz uma Revolução Farroupilha? E na hora de pagar meu imposto de renda? Vou fazer uma equação de segundo grau? Descobrir a hipotenusa? O brasileiro só sabe multiplicar problemas e dividir dívidas. Os bandidos e políticos corruptos (que são praticamente sinônimos) subtraem as riquezas do país. Existe alguma soma? Claro. Pode pegar a calculadora e somar o imposto de renda com o IPVA e o IPTU. O resultado é uma vergonha. E a capital do Afeganistão? Alguém sabe? O adulto não quer saber da capital. Está é preocupado com o próprio capital. E como vamos cuidar de nossas finanças? Aprendendo na marra ou pagando alguém para nos orientar. Não aprendemos isso na escola. E deveríamos aprender. Deveríamos ter aulas de direito do consumidor, direitos humanos, desenvolvimento sustentável, culinária, política, economia, justiça. A escola deveria nos preparar para o vestibular e para a vida. A criança aprende com muita facilidade. E nós enchemos a cabecinha delas com cultura que será esquecida ou pouco utilizada. Que tal se ensinássemos melhor sobre sexo? Hoje em dia a criança vai aprender de qualquer jeito, pois o sexo está em toda a parte, seja na novela, nas ruas ou na internet. A escola poderia pelo menos ensinar de uma maneira mais construtiva do que ensinam as músicas de funk. Vamos ensiná-las a identificarem pessoas suspeitas, pedófilos, ladrões, para que possam se defender delas. Ao invés de melhorar o ensino, o que o governo faz? Muda as regras do português. Os ignorantes é que foram beneficiados, pois se antes escreviam errado por não saber, agora escrevem certo por continuar não sabendo. Vamos melhorar o ensino nas faculdades? Não. Vamos criar o sistema de cotas. Vamos melhorar o ensino na rede pública? Não. Vamos dar um colete à prova de balas para os professores e seja o que Deus quiser. 

Autoria: O chinelo da minhoca

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