Onde andas tu, oh anjo de magistral formosura, que na inquietude de meu ímpeto evoca o mais ardente devaneio apaixonado? Estarás esculpida em pedra, tal qual a Vênus da renascença? Ou quem sabe imortalizada em vitrais das mais suntuosas catedrais? Seja onde for, lá estará também a castigada alma desse que vos escreve em prantos. Lágrimas hídricas, molhadas e de conteúdo líquido deixam neste momento a sua morada ducto-lacriméica para se juntar às suas irmãs em uma grande orgia fluida de quase infindáveis 1312ml do mais puro soro caseiro, que vai aos poucos se acumulando no fundo de um pequeno balde de sofrimento. Por que sois vós tão cruel a ponto de ignorar minha devoção por ti? Ainda não se cansou de ignorar meus apelos telepáticos que insistem em sussurrar aos vossos ouvidos as mais ternas palavras de amor? No meu amargo louvor platônico, me resigno em contemplar a sua imagem, e permaneço ali, às margens da loucura, na escuridão dos meus desejos, quase na rua da amargura, sentado na sarjeta, bem na esquininha do bar do seu Alfredo, gente boa, amigo do peito, que eu considero prá caramba. Mas, voltando ao assunto e, partindo do pressuposto que o principal é o mais importante, devendo ser levado em consideração desde o início, sem interpolações ou delongas adicionais, volto a clamar a ti, oh rosa do meu xaxim, estandarte de primor, maçaneta que me permite abrir a porta para a felicidade. Quem dera poder tocá-la, não de modo leviano, nem do modo como se tocam galinhas ou a campainha da porta, mas de maneira suave e respeitosa, tal qual o toque da seda sobre um castiçal lilás que fica no quarto da minha avó. Diante da perfeição de sua imagem, vago perambulante, zanzante, sem destino pelo universo dos substantivos abstratos, na busca de um modo de expressar em palavras toda a beleza que presencio estupefato e boquiaberto. E chego finalmente ao desfecho de uma conclusão que diz não haver maneira humana de transformar em som uma imagem tão rutilante e cheia de atributos divinos. Fico obnubilado só de me imaginar alçando vôo ao lado de garça tão majestosa, que de mim poderia tirar tudo. Tu poderias brincar comigo como se eu fosse um soldadinho de chumbo perneta em um grande forte apache dos comandos em ação, aguardando pela fatídica batalha final contra os malvados playmobil que destruíram impiedosamente o salão de beleza da Barbie skatista, que foi obrigada a se mudar para o aeroporto feito de peças coloridas de lego. Poderia me usar como se usa um saquinho de chá de camomila, me afogando em um terrível banho fervente para depois me sorver aos poucos, tomando cuidado para não queimar a língua. Oh! Como é grande minha devoção e maior ainda é meu pesar por ter-te tão perto em meu coração mas tão longe em distância. Por que foi se mudar logo para a zona sul? Tenho que pegar dois balaios lotados só para vislumbrar o terceiro passando direto pelo ponto, ignorando meu humilde sinal de indicador. Mas eu prometo a mim mesmo, oh, minha deusa, que um dia deixarei de lado esta minha sôfrega condição de chupador de manga e criador de jacupemba para me tornar um cavalheiro de respaldo e galanteio ímpar, dotado do mais encantador linguajar, embasado nos mais requisitados dicionários do vernáculo. Aí sim minha estrela simbolista deixará de ser solitária, como a que representa a capital na bandeira nacional. Ousarei escalar as mais íngremes montanhas e ermos desfiladeiros para então poder rastejar até seus pés, minha amada, torcendo para que tu não sejas portadora de bromidrose. Oferecerei nada menos que minha vida, para que faças de mim o que quiser, menos dar peteleco na orelha, que é muito sem graça e eu não gosto. Enfim, serei seu bibelô, dedicando minha existência a ser seu arauto, anunciando ao inverno da outrora solidão a chegada de seu primaveril resplendor.
Do seu poeta sonâmbulo...
Autoria: O Chinelo da Minhoca
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir